30 de outubro de 2003

conversas de treta

Há dia em que me sinto uma balzaquiana amarrotada, quando acordo, fico prostrada na cama a tentar abrir os olhos inchados enquanto os minutos desfilam no relógio.
Tento achar o norte enquanto vou para a escola
A seguir passo horas a fio a tentar dar voltas fantásticas ao que ensino (não gosto de me sentir papaguear certas inutilidades programadas)
Tento moldar-me aos formandos, qual plastic woman a dar piruetas entre temas formais para aluno aprender e temas que cativem os borbulhentos admiradores do Eminem. E no meio deste bailado, tento esquecer a conversa absurda que tive com uma colega.
Apanhou-me a jeito quando eu ia tomar café, e no meio da bica e dos desabafos conjugais (no fim de cada frase vinha sempre “tu não percebes, não és casada”---- se não percebo, porque raio é que me está a contar?) eis que surge a já famosa conversa do costume.
“Olha lá, tu até podias ser bonita se… (tremo e espero pelo catalogo da Avon ou afins) ….Fizesses uma dieta”.
Eu sabia, e enquanto afivelo um sorriso amarelo ouço argumentos “deliciosos” misturados com olhares piedosos.
-já viste, se fosses magra, podias usar roupa mais gira
(silêncio)
-sabes bem que os homens preferem as mulheres magras
(silêncio)
-podias fazer uma pequena dieta, se não fosses preguiçosa
(silêncio)
O riso já estava mais pró negro, escondi-me num silêncio, que me incomoda (eu não consigo ser sarcástica), dizer simplesmente que não quero emagrecer, não chega, aos olhos dos outros isto é uma desculpa ou mesmo uma cobardia.
A vontade que me deu foi a de amarfanhar esta conversa de treta e deita-la para o caixote do lixo.
Raios, há pessoas que ajudam os dias a serem chatos e há dias mesmo maus para deixar o sarcasmo a dormir em casa.

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