João César Monteiro- fotografia de Patrick Messina (1996) |
A magia do cinema, para além de nos transportar para outros
tempos e lugares é a de retratar a nossa história, reavivando memórias, valores
e momentos que ali ficam eternamente guardados, à espera de ser revistos e
novamente interpretados à luz de novas gerações.
É por isso que iniciativas como o Córtex- Festival de Curtas-Metragens de Sintra devem ser apoiadas e acarinhadas, nunca deixando de
reconhecer-lhes valor.
A sessão de abertura deste festival mostrou numa
homenagem a João César Monteiro a colecção de curtas do realizador.
Para além de nos levar a um universo muito próprio cheio de
dicotomias, contradições, um tom sempre provocador e acutilante temperado de um
“non-sense” refinado; as pequenas histórias fragmentadas que nos trouxe revelam
um sentido mordaz de captar um retrato de um país e dos seus valores.
Em 1971 , o “provérbio cinematográfico”: «Quem espera por
sapatos de defunto, morre descalço» que deu nome a uma das suas curtas desse
mesmo ano, queria dizer muitas coisas que ainda hoje são de uma actualidade
desarmante.
Nunca antes tinha sido feita uma exibição das curtas do
realizador, o que por um lado me espantou; mas o que mais me entristeceu foi
saber; por uma das organizadoras desta mostra retrospectiva (Isabel Strindberg)
as condições pouco (ou mesmo nada) favoráveis em que o património
cinematográfico é arquivado e preservado. São obras históricas, que datam de
uma época e que, além de excelentes documentos de investigação fazem parte da cultura
de cada um!
É verdadeiramente lamentável a forma como as instituições
responsáveis não se preocupam com a preservação, algo prioritário e urgente
(apesar de reconhecer a ginástica financeira a que muitas delas são obrigadas
no contexto que vivemos).
Curiosamente neste encontro, tivemos ainda o prazer de ouvir
Liliana Navarro, uma italiana fascinada com o universo de João César Monteiro e
que fez a sua tese de doutoramento sobre uma das suas obras. Criou ainda uma
página onde partilha informação sobre o seu espólio, por dizer que esta estava
pouco acessível a todos.
E no fim, deixou-nos uma pequena reflexão em jeito de
brincadeira: “é preciso ser uma estrangeira a vir estudar o vosso património?”.
1 comentário:
... e acrescentaria a oradora francesa, a informar que, no início de 2014, a cinemateca do seu país lhe dedicará um ciclo e, pela ocasião, irão editar os textos críticos assinados por JCM que, na década de 60,foram publicados na 'Cinéfilo', em 'O tempo e o modo' e ainda no DL :)
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