3 de junho de 2010
Boris Vian, aka Vernon Sullivan
(primeira imagem: l'Internaute Magazine)
Em 1946 é publicado o título Irei cuspir-vos nos túmulos, policial negro da autoria do então desconhecido Vernon Sullivan traduzido para francês por Boris Vian. Algumas passagens do enredo, cruas e violentas, chocam os leitores dos anos 50, convertendo-se a obra em escândalo nacional.
Pouco tempo depois, o “desconhecido” escritor americano publica Les Morts on tous la même peau.Claro que é Boris Vian quem se esconde por detrás do pseudónimo...
Quase que em tom de anedota, resta referir que as suas “traduções” foram consideradas de tal modo eficazes e convincentes que Vian é promovido a consagrado tradutor de policiais de romancistas clássicos , encontrando-se na lista Raymond Chandler ou James Cain…
Antes de concluir, ficam ainda algumas curiosidades: na primeira firma onde trabalhou, o escritor-trompetista foi despedido por não conseguir cessar de corrigir erros ortográficos aos seus superiores, situação tratada em um dos seus romances. Fazendo a ponte para outras vivências (e aqui saltando-se para a construção frásica), evoco um jornalista nacional que bem tratava o nosso idioma, sendo – inveja? desconhecimento? – constantemente «chamado à pedra» por um superior que – na ausência de outros reparos - lhe criticava sistematicamente a original disposição das vírgulas. Um dia, o calmo redactor (de paciência esgotada) apresentou ao chefe uma folha preenchida com vírgulas em toda a sua extensão , dizendo-lhe: «tem aqui um virgulário, disponha e utilize-o a seu bel-prazer». Evoco ainda o grande Agostinho da Silva na sua imensa simplicidade que um dia confessou – na ausência de outros reparos por parte de júris académicos – ser igualmente repreendido por via da “virgulação”… como alguns se lembrarão, houve determinado diploma legal a levantar polémica precisamente por causa de … uma vírgula!
Vian deixou-nos ainda jovem e dizem que vitimado por ataque cardíaco ao visionar a adaptação cinematográfica do seu já referido Irei cuspir-vos nos túmulos.
A versatilidade do escritor é também extensiva às qualidades musicais.
aqui
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2 comentários:
Genial, mas um pouco redutor...
"Existem apenas duas coisas: o amor, todas as espécies de amor, com raparigas bonitas, e a música de Nova Orleães ou Duke Ellington. Tudo o resto é desnecessário, porque tudo o resto é feio".
Sem dúvida que redutor, José Quintela Soares, mas talvez utilizado por quem o proferiu sob a forma de «aforismo» (a la Vian) o que, por vezes, também se revela de alguma utilidade:)
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