
Pensemos num país no qual, em 1925, cerca de metade da população trabalhava na agricultura. Lisboa e Porto fugiam à norma no tocante à industrialização, seguindo-se-lhes Aveiro, Braga e Setúbal.
Pensemos ainda num país no qual o desenvolvimento de grandes unidades industriais teve lugar no Barreiro (CUF), em Leiria (cimenteira) e pontualmente em diversas cidades com as conservas, o fabrico de cerveja, as massas alimentícias, as moagens.
As nossas unidades industriais eram, em 1914, quase todas de pequeno e médio porte e o trabalho infanto-juvenil afastava milhares de crianças da escola. Em 1910, há registo de um movimento grevista em Lisboa que englobava crianças entre os seis e os onze anos de idade. Em 1921, em Castanheira de Pêra, os menores a trabalhar nos lanifícios tinham um horário de trabalho que se estendia das 5h da manhã às 24h.
A taxa de analfabetismo, legado da monarquia, traduzia-se no ano de 1910 , em 76,1%. Dez anos mais tarde, a percentagem descia para uns tímidos 70,5%.
A fuga ao cumprimento da escolaridade abrangeu sobretudo o sexo feminino. Nem sempre a oferta escolar era suficiente, existindo uma má distribuição de estabelecimentos. Em Lisboa, muitas escolas funcionavam no primeiro andar de prédios. Com a I República, assistiu-se ao movimento privado das escolas móveis pelo método de João de Deus. Este método existia na Suécia onde a população era muito dispersa, destinando-se a crianças, adolescentes e adultos.
Em 1910, não havia Ministério da Educação. A República apresentou uma reforma do ensino primário em Março de 1911 que foi precedida de grande polémica.
É nesse contexto que se destacam figuras preocupadas com a instrução, com vista ao progresso.
Domingos José de Morais será um exemplo a destacar pela dedicação à instrução da infância. Este filantropo republicano patrocinou obras de cariz social pelo país , com destaque para a escola que, em Sintra, tem o seu nome.
O edifício, iniciado no último período da monarquia e concluído em 1910 foi, desde logo, associado à causa republicana, tendo Morais doado as instalações à administração municipal. Na escola existia uma banda de música denominada a “Banda da Escola do Morais” formada pelos seus jovens alunos, que se estreou em 24 de Junho de 1911.
Um edifício que, a título pessoal, traz gratas memórias: o local de realização do exame de 4ª classe e, dez anos mais tarde, enquanto educadora de adultos formada no método Paulo Freyre, o cenário onde sintrenses de avançada idade puderam realizar um sonho antigo: a realização do exame que lhes facultaria o primeiro certificado escolar.
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