13 de abril de 2009

Quando aquilo de que gostámos vence a barreira do tempo

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Por vezes, o regresso a filmes ou a poemas de juventude traz um certo desencanto. Noutros momentos, há a agradável surpresa de textos ou de imagens que nos marcaram continuarem a ter a mesma força. É o caso do poema de Denise Levertov. A autora, nascida em Inglaterra, afirmou, aos 5 anos de idade, que iria ser escritora. Aos doze anos, enviou um conjunto de poemas ao grande T.S.Eliot que lhe respondeu, encorajando-a a continuar com o seu projecto de escrita.

What were they like? It's silent now

Did the people of Viet Nam
use lanterns of stone?
Did they hold ceremonies
to reverence the opening of buds?
Were they inclined to quiet laughter?
Did they use bone and ivory,
jade and silver, for ornament?
Had they an epic poem?
Did they distinguish between speech and singing?

Sir, their light hearts turned to stone.
It is not remembered whether in gardens
stone lanterns illumined pleasant ways.
Perhaps they gathered once to delight in blossom,
but after the children were killed
there were no more buds.
Sir, laughter is bitter to the burned mouth.
A dream ago, perhaps. Ornament is for joy.
All the bones were charred.
it is not remembered. Remember,
most were peasants; their life
was in rice and bamboo.
When peaceful clouds were reflected in the paddies
and the water buffalo stepped surely along terraces,
maybe fathers told their sons old tales.
When bombs smashed those mirrors
there was time only to scream.
There is an echo yet
of their speech which was like a song.
It was reported their singing resembled
the flight of moths in moonlight.
Who can say? It is silent now.

Denise Levertov

9 comentários:

Unknown disse...

Relativamente ao poema: O imenso respeito pela dor alheia deixa-me emudecida..., num estado de completa nudez...
Fico sem palavras.

teresa disse...

É curioso como um poema fica na memória durante tantos anos. Lembro-me de me ter oferecido para o trabalhar o que me deu um enorme prazer. Até a forma como as palavras lá vão sendo colocadas e a construção "pergunta/resposta" são marcantes.
Penso que Coppola também nele terá encontrado referências. Sobre guerra, existe ainda um outro em que um soldado à morte diz a um adversário que o ajuda a passar os últimos momentos: "amigo, eu sou o teu inimigo...." o que acentua o absurdo de qualquer guerra. No entanto e apesar de tocante, não terá marcado do mesmo modo por lhe faltar ritmo e uma visualidade tão forte.Apesar de saber que é de algum poeta inglês ou americano famoso, já não recordo a autoria.

gin-tonic disse...

Os trinta e picos anos de sipping, inglês técnico, como o outro, não lhe dão para apanhar a alma destas palavras. Pressente-a mas não consegue chegar lá. Já disse o mesmo quando o Carlos publicou por aqui um poema, também em inglês, de Nazim Hikmet.
Para além da publicação na lingua original não seria possível, a tradução em portugês? Sim ele sane que é dificil - oh! se sabe! - também sabe que traduzir é tair mas apenas está a a perguntar se...e que lnão levem isso a sugestão... o (des)comentário

gin-tonic disse...

Sim, ele sabe que é dificil - oh! se sabe! - também sabe que traduzir é trair, mas apenas está a perguntar se... e que não levem a mal a sugestão... o (des)comentário...

Assim é que o finalzinho está correcto!...

teresa disse...

gin,
Eu traduzo rapidamente, embora o possa fazer menos bem, pois a prática - que já tive mas perdi - leva a desrespeitar o texto. No entanto, está prometido e com gosto, pois (apesar da força do texto ser muita para a própria) poderá não ter o mesmo significado para outros leitores, embora seja interessante partilhar "simpatias poéticas": está prometido!:)

teresa disse...

Trabalho feito com gosto, embora consciente de falhas, aqui vai com a liberdade literária para não fazer muitos "estragos" quanto à estética:

Como eram eles? Agora, o silêncio

Os vietnamitas
Usavam lanternas de pedra?
Praticavam rituais
Para saudar a abertura dos botões de flor?
Eram dados a risos tranquilos?
Utilizavam osso e marfim,
Jade e prata como ornamentos?
Tiveram um poema épico?
Distinguiam entre discurso e canto?

Senhor, os seus corações leves empederniram.
Não existe memória se nos jardins
As lanternas de pedra iluminavam caminhos aprazíveis.
Talvez se tenham reunido por uma vez para se deliciarem com o abrir dos botões,
Mas depois da morte das crianças
Cessaram os botões.
Senhor, o riso é mais amargo do que uma boca queimada.
Talvez há um sonho atrás. Os ornamentos são para a alegria.
Todos os ossos foram carbonizados.
Já não existem memórias. Lembre-se:
Quase todos eram camponeses: a sua vida
Era o arroz e o bambu.
Quando nuvens pacíficas se reflectiram nos arrozais
E o búfalo da água caminhou, tranquilo, ao longo de plataformas,
É provável que os pais tenham narrado aos filhos contos ancestrais.
Quando as bombas destruíram esses espelhos
Só houve tempo para gritar
Ainda subsiste um eco
Das suas palavras que eram como uma canção.
Existem relatos de que o seu canto se assemelhava
Ao voo das borboletas da noite à luz do luar.
Quem o poderá dizer? Agora, o silêncio.

carlos disse...

teresa,
posta a tradução...
:)

teresa disse...

Ok, Carlos.
Posso postar a tradução, correndo o risco de algum anglófilo mais fundamentalista me dar um puxão de orelhas:)

Anónimo disse...

se puxar, a gente vai-lhe aos fagotes...
ou a outra parte qualquer...