3 de abril de 2009

Algumas reflexões próprias de Abril

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Quando um professor gera empatia com os alunos – sejam estes adolescentes ou, no caso, adultos – é-lhe sempre conferida autoridade, gostando de se saber a sua opinião acerca de situações actuais eventualmente geradoras de controvérsia. E foi assim que, há pouco mais de uma semana, surgiu – já nem sei de que boca – uma pergunta causadora de apreensão no seio do grupo.
Confere-se inevitavelmente autoridade a um mestre que – para além de viver em pleno o que faz - apresenta um historial de vida com doenças que o não largavam, no mato, ingerindo com as populações locais águas estagnadas e comida em condições sanitárias duvidosas e se deslocava, diariamente, dezenas de quilómetros sob um clima insalubre a fim de estudar os hábitos de vida dos habitantes , tirando inúmeros apontamentos, tarefa de anos e – opinião pessoal – não lhe tendo sido provavelmente atribuído o devido valor, embora a humildade característica o não leve a reclamar.
E a questão surgiu, inevitável: “Professor, concorda com a atribuição de determinado título de doutor honoris causa?” e com o sorriso e serenidade habituais, chegou a resposta:” Algumas escolhas trazem interesses financeiros subjacentes”. “Então pode dar um exemplo de uma atribuição meritória de tal título?” “Sim, ocorre-me subitamente Mandela pela sua história de vida e capacidade invulgar de senso-comum”.
...

Estava há pouco tempo na minha cela quando o comandante e vários outros funcionários prisionais me vieram visitar. Isto não era nada comum; o comandante geralmente não fazia visitas aos presos nas suas celas. Levantei-me quando eles chegaram e o comandante entrou mesmo na minha cela. Mal havia espaço para nós os dois.
- Mandela – disse ele - , quero que faças a mala.
- Para onde?
- Não te posso dizer – replicou.
Exigi saber porquê. Só me disse que tinha recebido instruções de Pretória para ser transferido imediatamente de ilha. O comandante foi-se embora e dirigiu-se às celas de Walter, do Raymond Mhlaba e do Andrew Mlangeni para lhes dar a mesma ordem.
Fiquei perturbado e inquieto. O que é que aquilo significava? Para onde íamos? Na prisão, só se pode questionar uma ordem e resistir-lhe até um certo ponto, depois tem de se ceder. Não tivéramos nenhum aviso, nenhuma preparação. Eu estava na ilha há dezoito anos, e agora ia partir assim tão abruptamente?[…]
Em poucos minutos estávamos a bordo de um navio em direcção à cidade do Cabo. Olhei para a ilha, ao lusco-fusco, não sabendo se a voltaria a ver. Uma pessoa pode habituar-se seja ao que for, e eu tinha-me habituado a Robben Island. Vivera lá durante quase duas décadas e , embora nunca tivesse sido o meu lar – o meu lar era em Joanesburgo -, tinha-se tornado um sítio onde me sentia bem. […]
Nas docas, rodeados por guardas armados, fomos metidos num camião fechado. Nós os quatro deixámo-nos ficar no escuro, enquanto o camião andou durante o que pareceu muito mais do que uma hora. Passámos por vários postos de controlo, e finalmente parámos. As portas de trás abriram-se e, no escuro, mandaram-nos subir uns degraus de cimento e entrámos por umas portas de metal noutras instalações de segurança. Consegui perguntar a um guarda onde estávamos.
- Prisão de Pollsmoor – disse ele.

Nelson Mandela, Longo Caminho Para a Liberdade (transcrito com supressões)

2 comentários:

Unknown disse...

Bonitos excertos!

Um bom resto de dia!

teresa disse...

Já não venho a tempo de retribuir: "gude nute!" (esta aprendi há pouco e apreciei pela pronúncia):)