2 de março de 2009

O que não podemos desperdiçar

Image and video hosting by TinyPic

Muito se tem referido sob diversas roupagens verbais o desencanto que hoje ensombra a família humana – mesmo que alguns parentes sejam menos agradáveis, chamemos-lhe assim : “família” e sem conotações sicilianas.
É fácil encontrar causas explicativas e, muitas delas, afectam sem dúvida a existência diária das populações, sendo algumas – não todas, é óbvio, lembremos o crescente encerramento de empresas no mundo dito civilizado - facilmente relativizadas. Pelo exposto, passo a relembrar alguns lugares-comuns: poderemos comparar a nossa ocidental preocupação com o aumento do preço dos combustíveis quando somos fustigados com imagens televisivas de populações, transportando às costas parcos haveres e nos braços crianças famintas em fuga ao genocídio? – um só exemplo será apontado a fim de não cairmos na exaustão.
Tendo reflectido um pouco sobre o tema, os pensamentos levaram-me às matrizes da memória colectiva (não do “inconsciente colectivo” para não cair em discussões para as quais me sinto impreparada).
Essas marcas indeléveis são, indiscutivelmente, as narrativas dos heróis ancestrais que formaram a identidade humana. Muito do nosso rumo tem vindo a ser, até um passado recente, construído através dos exemplos mitológicos devidamente desmontados e aplicados, mesmo que de tal nos não apercebamos. E deste modo se chega aos Doze Trabalhos de Hércules, sentindo a urgência – opinião pessoal - de reavivar junto das novas gerações estas directivas numa época em que se abre mão da memória, da tradição e da identidade dos povos:
Atormentado pela deusa Hera – o herói era filho de Zeus e de uma mortal – perseguiu o objectivo da Virtude, procurando uma boa causa a defender. Foi deste modo que livrou Tebas de um pesado tributo a pagar ao reino vizinho e, como gratidão, casou com a filha do rei. Hera vingou-se e enlouqueceu-o, tendo feito com que o herói acabasse por matar a própria família.
Desgostoso, dirigiu-se então ao oráculo de Delfos, tendo sido aconselhado no local a servir – durante doze anos – o rei Euristeu a fim de reconquistar a serenidade perdida. Conta a mitologia que – na prossecução de tal fim – teve de enfrentar 12 trabalhos:
1 – Matar o leão destruidor trazendo, como prova, a respectiva pele, quase impossível de retirar;
2 – Dirigir-se ao rio pantanoso de Lerna a fim de matar a hidra de 9 cabeças;
3- Apanhar sem ferir a corça Cerineia para a levar ao rei;
4- Capturar com vida um enorme javali que espalhava o terror, actividade trabalhosa mas concluída com sucesso;
5- Limpar, num só dia, os imensos estábulos do rei Augias , o que alcançou através da construção de um engenhoso dique e com recurso ao rio próximo;.
6- Expulsar pássaros pestilentos do monte Cilene, animais mortíferos de bicos e penas de cobre, utilizados como armas contra os humanos;
7 – Apanhar o enorme touro que, à solta em Creta, destruía pessoas e plantações;
8 – Libertar as éguas do cruel rei da Trácia – estes animais eram alimentados com carne humana pelo monarca e matar o próprio rei, servindo-o como alimento a estes “herbívoros-carnívoros”;
9- Levar a Euristeu o cinto de ouro de Hipólita, rainha das Amazonas, que vivia perto do Mar Negro.
10 – Roubar uma manada de vacas ao rei dos Tartéssios na Península Hispânica.
11- Colher maçãs da árvore das Hespérides na Mauritânia , conseguindo vencer o feroz guarda que era um dragão, missão cumprida com o auxílio de Atlas.
12 – Visitar o Mundo Inferior e trazer Cerbero, o terrível cão de guarda. Teria de matá-lo sem recurso a espada, lança ou setas. Conseguiu fazê-lo, tendo-o asfixiado com a pele do terrível leão que havia derrotado no seu primeiro trabalho.
“Carregando o cão nos braços, Hércules saiu do Mundo Inferior, com serenidade. Estavam completados os doze trabalhos e sentia-se finalmente, liberto”.
Para concluir, deverei salientar que cativar os jovens enquanto é tempo para estas narrativas ancestrais é mais simples do que qualquer dos trabalhos de Hércules: tenho tentado fazê-lo, encontrando sempre plateias interessadas e participativas.

6 comentários:

Anónimo disse...

uma ideia que interessante é o facto da medida inglesa 'feet' corresponder ao que se determinou ser o tamanho do pé do hércules. a pista do estádio olímpico media 600 pés de hércules, ou seja algo como 192,27 metros. o que dá o hércules um pé de 32cm ou seja como calçando um 46... por aí

teresa disse...

Desconhecia:)
Em relação ao delicado pezinho - ocorreu-me a seguinte ideia: ainda bem que o calçado, lá pelo Olimpo, era fabricado de modo artesanal (ainda não havia estas "modernices" dos franchising):)
(joke, embora o post não o seja)

ABS disse...

Efectivamente, segundo Goscinny, em "Astérix e os Jogos Olímpicos", Hércules calçava 46.

Quanto aos miúdos de hoje, todos conhecem o Cérbero... mas sob o nome de "Fluffy". Adivinhem porquê.
:)

teresa disse...

Por Toutatis!... adivinhas assim tão difíceis também não vale!...:)

ABS disse...

Pelo contrário. É fácil. Uma dica:
Rubeus Hagrid. No tempo do Google isto é dar a resposta! :)

teresa disse...

:) é que não tinha fixado o nome da mascote, afinal uma miúda que cá vem a casa tem um cão com o mesmo nome (este só com uma cabeça e de ar inofensivo):)