10 de março de 2009

COMEÇOS DE LIVROS


Começo de “Os Passos Em Volta” de Herberto Hélder:

“Se eu quisesse, enlouquecia. Sei uma quantidade enorme de histórias terríveis. Vi muita coisa, contaram-me casos extraordinários, eu próprio… Enfim, às vezes já não sei como arrumar tudo isso. Porque, sabe?, uma noite acorda-se às quatro da manhã, num quarto vazio, acende-se um cigarro… Está a ver? A pequena luz do fósforo ergue de repente a massa das sombras, a camisa caída sobre a cadeira ganha um volume impossível, a nossa vida… compreende?... a nossa vida apresenta-se então ali como algo… como um acontecimento excessivo…”

3 comentários:

teresa disse...

Curiosamente, nunca dei muita atenção ao escritor madeirense. Por cá tenho o Photomaton & Vox (com a capa de Magritte) e um texto em papel grosseiramente reciclado, fascículo de reduzidas dimensões, com o título de "Poemacto". Só olhei atentamente para Herberto Helder quando, salvo erro, há alguns anos, se recusou a receber o prémio pecuniário Camões (não estou certa se foi este o prémio).

gin-tonic disse...

Não, Teresa, foi o Prémio Pessoa que é atribuído anualmente pelo semanário “Expresso” . Herberto Hélder recusou-o em 1984 – foram, apenas, sete mil contos!!!!!!!!!!
Gosta de quem diga que o dinheiro é uma coisa supérflua e age praticando o que pensa e diz.
Recusou-o invocando o “seu eu mais intimo”.
Um extraordinário escritor e poeta. Tem inúmeras dificuldades em saber o que ele quer dizer, mas é esse o grande desafio de um autor aos seus leitores. Passa-se o mesmo com alguns filmes, não os percebe de todo, mas gosta.
“Os Passos em Volta” é um dos livros que, volta e meia, gosta de folhear.
Toda a obra de Herberto Hélder está publicada pela Assírio e Alvim.

teresa disse...

Grata pelo esclarecimento, gin.
A memória está mesmo a ficar selectiva: quando referi o prémio Camões, hesitei, curiosamente, tenho mais certezas relativamente a memórias mais antigas:)
(na altura fiquei impressionada com a atitude do poeta,pouco comum à condição humana)