8 de março de 2009

COISAS DO SÓTÃO


Excepto os afectos, não é coleccionador de nada.. Porém gosta de acumular coisas, assim um pouco como o cidadão Kane de “O Mundo a Seus Pés” de Orson Welles, a última palavra - “Rosebud”.
Volta e meia há sempre alguém, com aquele ar de espanto, que lhe diz: “Como é que consegues viver no meio desta tralha?” Eles não sabem mas o contrário é que é verdade: não saberia viver sem ser no meio desta tralha. Um homem é feito do que ouve, do que vê, também do que guarda. Tralha? Que seja, mas não sabe viver sem isso.
Perde-se por caixas de folha de chocolates, bolachas, rebuçados. É dentro delas que coloca bilhetes de cinema, futebol, concertos, palavras escritas em guardanapos e bocados de toalhas de papel, fotografias, coisas da vida. Um pouco como postais velhos, um pouco como amantes antigos, um pouco como aqueles momentos que persistem em condensar, às vezes, anos inteiros, uma vida. Se for procurar o que ficou de cada um dos nossos dias até talvez encontre uma fotografia ou um bilhete de cinema, ou aquele frasquinho com areia da praia naquele Verão distante.
Esta é a caixa de que mais gosta: Pegou nela porque dentro tem bilhetes de futebol de que vai precisar para escrever um “post”. Lembrou-se, então, que poderia trazer aqui velharias que, por isto ou por aquilo, lhe marcaram a vida. Coisas que o ajudaram a suportar os dias, ajudaram-no nos conhecimentos disto e daquilo. Apenas lamenta não as ter à vista. Algumas estão em armários, outras atrás dos livros. Um dia terá uma casa grande com um salão para expor a tralha toda. Um dia…

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