29 de março de 2009
CAMINHADA PARA ABRIL
29 de Março de 1974
Perto de cinco mil espectadores encheram por completo o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para assistirem ao I Encontro da Canção Portuguesa, com que a Casa da Imprensa entendera substituir a habitual “Grande Noite do Fado”.
Presenças de Carlos Paredes, José Barata Moura, Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Manuel Freire, Fernando Tordo, Fausto, Vitorino, entre outros.
Não há machado que corte a raiz ao pensamento, um entusiasmo delirante e o espectáculo a encerrar com todos os artistas participantes a cantarem, com toda a sala de pé, braços dados, “Grândola Vila Morena, ironicamente uma das duas canções que a censura permitiu que, nessa noite, José Afonso cantasse. A outra seria “Milho Verde”
Será o impacto causado por toda a sala a cantar, o povo é quem mais ordena, que levará os capitães a escolherem “Grândola”, como senha do Movimento, na noite de 24 para 25 de Abril.
O jornalista Mário Contumélias, reportando para a revista “Cinéfilo” de 6 de Abril de 1974 escreverá:
“Fosse lá porque fosse, naquela noite, no Coliseu, senti-me. E isso não nos acontece todos os dias. Isso é importante!
Estavam lá, não sei se já vos disse, 5 mil pessoas. Eram 10 horas, passavam 30 minutos da hora prevista para o começo do espectáculo. Cantava-se em coro “Canta, Canta Amigo Canta… Era assim que os 5 mil pediam que o espectáculo, também ele começasse”.
Por sua vez Regina Louro escreverá na “Flama” de 12 de Abril: “Até as luzes de gala se acenderam, para esse espectáculo-participação”.
Esta noite fazia já antever o que, uma vintena de dias depois, veio a acontecer: a última página, o consumar do grito do poeta à rapariga, para que ela não esquecesse que um dia iriam soltar a Primavera no País de Abril, o microfone que falaria numa noite às 4 e tal…
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4 comentários:
este espectáculo foi claramente marcante, mesmo lá.
a sensação de que tudo estava a mudar e que querendo não era possível resistir àquela força de mudança.
mas também já ali muitas das divergências que um mês depois estariam a descoberto...
E que foram grandes.
As divergências já vêm de trás, muito de trás. Finais de 1970, madrugada alta, num daqueles encontoss sem fim, malta nova, malta assim.assim, malta velha. Cada um a querer aplicar a sua receita para derrubar a ditadura. Um velho a rematar: "estão os bárbaros à porta da cidade" e nóa para aqui a discutir o sexo dos anjos"...
Tanto assim era que só quatro anos depois a ditadyra cairia e do lado de que menos se esperaria - os militares e, essencialmente, não por moticos políticos, mas outros...
Depois não se conseguiu dar a volta e por isso estamos todos, hoje, muito mal no retrato de conjunto...
Ooops! Também lá devia estar o Samuel do blog Cantigueiro. Um querido!
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