17 de outubro de 2008

a verdadeira silly season, ou o triunfo dos porcos

é comum achar-se que a silly season é uma época parva que acontece por volta do verão e quando, à falta de outra coisa para encher a comunicação social, cada alarvidade produzida com a descontração das férias é promovida a primeira página.

para mim, sinceramente, o verão é apenas uma época imensamente saudável e cómica (aquela parte dos jornais desportivos que a cada dia contratam mais 20 jogadores para o benfica.. cada um mais melhor do mundo que o outro) em que a descontração das pessoas as leva a dizer coisas que o seu normal ritmo de vida os impede de fazer.

a verdadeira silly season acontece pelo outono e tem o nome de praxes académicas.

há uma parcela dos estudantes universitários portugueses (deixemos os do secundário de fora porque, pela sua idade, ainda são inimputáveis) que, por outubro de cada ano, são acometidos por uma espécie de pandemia que lhes provoca um sintoma parecido com a ablação do cérebro.

são célebres os casos dos alunos do pólo do tagus park de uma escola que reivindica para si a fama de ser a melhor da sua área, que foram assaltar um dependência bancária para cumprir a praxe...

são conhecidos os casos da escola superior agrária que dá um novo uso ao estrume por alturas das praxes, ou das violações, das agressões, das humilhações ou pouco generalizadas.

tudo isto com uns alarves vestidos parvamente e humilhar uns imbecis que acham que humilhação é sinónimo de integração.

uma vez na avenida dos aliados deparo-me com o lindo espectáculo duns caloiros a comerem (literalmente!!) a relva do chão enquanto uns tipos com umas vestes pretas ridículas cheias de pregadeiras os iam insultando.

a semana passada, os alunos dum instituto de viseu ameaçaram fazer uma manifestação pela cidade se o reitor não os deixasse fazer as praxes (que já tinham custado à instituição um processo que durou anos por abuso de uma sua aluna). seguramente que pelo conteúdo dos seus cursos jamais levantariam um dedo. prioridades, claro está.

hoje, ao sair do almoço ia um grupo de 4 alunas do instituto politécnico aqui da terra.

perguntavam a uma delas se não tinha vista uma amiga comum com quem se tinham cruzado na rua e lhes tinha acenado.

respondia a 'caloira' que com o hábito de ser obrigada a olhar para o chão na escola, agora até na rua andava sempre a olhar para baixo.

 

é desta matéria que se fazem os papagaios do papel.

acéfalos e invertebrados.

5 comentários:

Anónimo disse...

"Dias que voam",
Já não existe o Storyteller, mas agora existo eu. Apareçam os dias que voam por lá, se gostar.

erre disse...

Nunca consegui perceber esse "ritual de integração"...
é mais um daqueles momentos em que me apetece dizer: "Ils sont fous ces Romains!"
Por Toutatis!

Anónimo disse...

Ritual imbecil para ser "polida", esse das praxes. Ainda bem que não faziam parte dos finais de 70, na altura éramos o mais anti-ritual possível, farpelas académicas e ´similares incluídos.
Gostei da ideia de Sérgio Godinho em ter "desancado" neste ritual idiota e humilhador para os caloiros no seu tema "Maçã com Bicho".

[...]
Não vou usar
mais exemplos concretos
é rastejando
que se ascende aos tectos?
Então vejamos
preto no branco
as cores da razão
porque a praxe eu desanco

Mas há quem ache
graça à praxe
É divertida (Hi-hon)
Lição de vida (Ão-ão)
Maçã com bicho
acho eu da praxe
É divertida (Mé-mé)
Lição de vida (Piu-piu)
Maçã com bicho
acho eu da praxe

Anónimo disse...

queria dizer "humilhante" e não "humilhador"... e, apesar de subscrever o post, parece-me que "silly" ainda é uma palavra muito suave.

T disse...

As praxes deviam ser proibidas. Humilhar ou ser humilhado são verbos a evitar.

Carlota já inclui o link:) Pena o Story Teller ter acabado.