como o nosso amigo abs anda desaparecido em combate (apresentando, no entanto, as devidas justificações de falta), mas continuando a espreitar aqui a casa, o 'dias' dedica-lhe dus pequenas peças.
uma que cantou imensas vezes e outra que terá ouvido cantar muitas vezes também.
a música renascentista está muito longe de ser apenas algumas coisas mais ou menos laudatórias a deus, a cristo, à virgem ou aos santos, anjos e arcanjos.
na época, para além das obrigações para com os 'sponsors' (divinos ou terrestres), os compositores tinham uma larga produção de música profana que hoje faria corar muitos dos actuais ouvintes, se por acaso estivessem com atenção ao que ouvem.
juan del encina foi o pai do teatro espanhol (gil vicente foi muitas vezes acusado de o plagiar), foi prior da catedral de leon, viveu em roma junto do papa...e compôs algumas dos mais explícitos vilancicos da história da musica ibérica, felizmente preservados nos cancionais de upsalla, elvas, segovia, barcelona e palácio.
o exemplo de hoje é uma canção que, para quem a ouve, parece ser uma glosa onomatopeica sobre o canto dos cucos.
nada mais errado.
o cucu aqui vem do francês 'cocu', que significa pessoa ornamentada com excrecências frontais ósseas.
para que o texto não fique pesado no blog, posto os links para o youtube e não o video directo.
por isso, cliquem aqui para ouvir este 'cucu, cucucu'
e deliciem-se com a letra:
cucu, cucu, cucucu
guarda no lo seas tú.
compadre debes saber
que la mas buena muger
rabia siempre por hoder
harta bien la tuya tu.
cucu...
guarda...
compadre has de guardar
para nunca encornudar
si tu muger sale a mear
sal junto con ella tú.
a segunda, que segurante o abs não terá cantado muitas vezes, mas de certeza ouviu cantar imensas, é uma pequena peça dum autor desconhecido sobre uma noite de nupcias em que a pobre noiva incentiva o marido a ter brios e fazer o que lhe compete.
cliquem aqui para ouvir.
e aqui podem seguir o texto:
vesame y abraçame,
marido, marido mio.
y daros en la mañana
camisón limpio.
yo nunca vi hombre vivo
estar tan muerto,
ni hazer el adormido
estando despierto.
andad marido alerto
y tened brío,
y daros en la mañana
camisón limpio.
a moral destas histórias, é que, como diz o juan del encina no seu 'cucu', é preciso cumprir os deveres domésticos antes que sejas 'cocu'
(a primeira peça é do cancioneiro de palácio, a segunda é do cancioneiro de uppsala)
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