Há muito que é discutida a falta de autoridade do Estado. Cada vez mais, a acção das autoridades policiais está sujeita a uma exposição quase em tempo real, com todos os benefícios ou desvantagens que daí possam advir. À cabeça de algumas das mais mediáticas acções policiais, surgem, cada vez com maior frequência, os policiamentos aos eventos desportivos. É sempre triste e criticável qualquer tipo de excessos quer sejam eles das claques ou das polícias. Não é nada agradável e quem não estiver de acordo com a situação, perde de imediato qualquer poder de argumentação contra o lado oponente. Contudo, há episódios que, vistos a uma certa distância, tornam-se de tal forma cómicos, diria mesmo jocosos, que levam o observador a sentir uma certa condescendência para com alguns excessos. Querem ver porquê?
Sporting e Leixões disputavam a final da Taça de Portugal. No Jamor fervilhava o calor dos adeptos. As claques, para não variar, marcavam presença nos sectores a elas reservados. O ambiente era o habitual na festa da Taça. Todos estavam a postos para o espectáculo. Só faltava a entrada dos principais intervenientes, jogadores e árbitros. Enquadradas e guardadas por fortes contingentes policiais, as claques de ambas as equipas aguardavam o momento da entrada dos seus amados heróis.
Por ser a mais numerosa e potencialmente mais problemática, ali estava eu, infiltrado entre a “lagartada” atento a tentativas de levar as manifestações clubistas para lá do permitido e identificar potenciais focos de disputas intra e inter claques. Eis que, enquanto observo a primeira linha de força constituída por hercúleos agentes do Corpo de Intervenção, colocada no muro de forma a impedir a passagem dos adeptos para o corredor de acesso ao relvado, reparei que um pequeno grupo de adeptos sportinguistas, membros de uma claque conotada (e assumida pelos próprios membros) com a extrema direita, fazia a sua deslocação para o espaço que lhe era reservado. Os tipos insultavam tudo e todos, provocando tanto os do Leixões como os seus próprios confrades felinos. Do meio deste grupo, composto por autênticos fanáticos, que faziam parecer os protagonistas de Feios, Porcos e Maus um autêntico bando de meninas, havia um, de medidas consideráveis. O jovem deveria medir uns bons
No seu afã de ininterruptos ataques, foi-se deixando ficar para trás, enquanto o seu cone visual ia diminuindo, convergindo o seu olhar num mulatinho que não teria mais de 15 anos e tão magro que eu juraria pertencer a um desconhecido núcleo sportinguista do Bangladesh. A cada três palavras, lá estava o insulto “preto de merda”, “escarumba vai para a tua terra” ou “não tenho medo da pretalhada”, etc. etc. Nada de dignificante ou mesmo digno de sorrir sequer, ao contrário do que sucedeu então a seguir. O parvalhão - não encontro uma designação mais leve para este tipo de gente - sentiu uma firme e decidida “pancadinha” no seu ombro direito. Virou-se para enfrentar cara a cara o atrevido que lhe tocara, mas em vez disso, ficou a encarar o peito do Marques, digno representante do Corpo de Intervenção, que com os seus quase
- Não gostas de pretos?... é que eu não gosto dos gajos que não gostam de pretos! – dizendo isto, o gigante azul, assenta-lhe uma palmada nos ombros, fá-lo rodopiar sobre si próprio aplicando-lhe, com uma técnica irrepreensível um par de algemas.
Perante isto, alguns dos do grupo do algemado, ainda tentam acercar-se do agente, pedindo satisfações ao Marques, sendo de imediato travados por outros elementos policiais.
- Como o vosso amigo não gosta de pretos e eu não gosto dos gajos que não gostam de pretos, aqui este preto, vai levá-lo arejar. Alguém quer acompanhá-lo?
E o tipo foi mesmo arejar!...
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