Por interposta pessoa, entrei num diferendo bloguístico.
Ainda falo a propósito do problema do fumador passivo. A diferenda é com o médico explicador (que postou isto) e a interposta pessoa, o Aviz.
Em primeiro lugar quero concordar com a afirmação "Não vou discutir ciência na blogosfera". Eu também não e mais, não estou habilitado para tal, pois a minha área médica é outra. Apenas exprimo a minha opinião, fundamentada em alguma informação e conhecimentos científicos.
Em segundo lugar relembro uma frase que ouvi proferir, a um professor que admiro, algum tempo atrás "As convicções são coisas de religiosos e políticos. A ciência é a arte da dúvida". Esta máxima mais se aplica aos médicos, devemos ter uma dúvida pertinente sobre todos os dogmas duvidosos e certezas incertas em que a medicina é fertil.
Não é difícil lembrar mitos que perduraram anos, como verdades absolutas, e hoje cairam no esquecimento: A posição dos lactentes a dormir, o papel decisivo do ácido na úlcera péptica, a amigdalectomia nas anginas, o carácter puramente psicológico das depressões, etc...
Em terceiro lugar sei que defendo uma causa "indefensável": a liberdade de fumar. Não tenho dúvidas (pertinentes) que fumar faz mal à saúde do fumador, que causa doenças crónicas e incapacitantes, que gera custos de saúde importantes e que tem efeitos sociais e económicos relevantes. Não tenho dúvidas... mas quanto aos efeitos no fumador passivo, tenho muitas dúvidas!
Comentando brevemento o exposto pelo meu colega diria que as afirmações da SPC e da ENSP são genéricas e não encerram, em si, nenhuma verdade científica rigorosa. Entendo-as como afirmações de princípios, de certa forma mais políticas que científicas. Aliás a dúvida quanto ao problema dos fumadores passivos está bem exposta no segundo trecho: "...já o risco de contrair cancro do pulmão relacionado com os fumadores passivos levanta ainda algumas dúvidas em estudos recentes (Lee e Forey, 1996)..." Além do mais, estas e outras entidades, não detêm o exclusivo do rigor científico. Podem errar!
Quanto ao artigo de Calheiros e colegas, mantenho o que já disse: os estudos caso-contolo podem ser muito falaciosos, não são avaliadas outras exposições ambientais, não são avaliadas condições biológias predisponentes ao cancro e, nas conclusões europeias, só foi detectado um risco mínimo para exposição doméstica e profissional (não observada em 5 centros).
Continuo a pensar que a aplicação cega da estatística à medicina é perigosa. Estatisticamente tudo é possível, até uma pessoa ter um testículo e um ovário.
Acho bem que se invista na educação e prevenção e se procure diminuir o número de fumadores.
O fumar em locais de trabalho deve ser fortemente restringido. Tem fundamento.
As restições de fumar em locais públicos não tem base científica suficiente. O único fundamento é a ditadura da maioria.
Não concordo nada que se tente atingir o objectivo de reduzir o número de fumadores, lançando sobre estes a ira dos não-fumadores, à custa do mito (até à data) do fumador passivo. É apenas o caminho mais fácil.
Por último: volto ao Aviz, os tipos de Bruxelas são uns merdinhas ao embicarem com o Português Suave. Estou com o Klepsydra, mude-se para Português Saudade!
E mais uma vez, desculpas aos meus colegas de blog. Isto não é para aqui!
Sem comentários:
Enviar um comentário