31 de outubro de 2003

histórinhas para embalar doentes (e não só)

O Porquinho Que Dormia de Costas

Havia um casal de porquinhos cujo único motivo de discórdia era a maneira como cada um deles dormia.
Dona Porquinha durante o sono ia sempre mudando de posição. Esta maneira de dormir concorreu para que adquirisse as mais elegantes formas porcinas (redondinha que nem um barril).
Já o Sr. Porquinho tinha uma maneira incómoda de dormir. Deitava-se de barriga para o ar e assim permanecia durante o sono. Por isso ressonava de tal maneira que por vezes acordava a vizinhança. E esta maneira de dormir provocava-lhe também tão grandes estremecimentos por todo o corpo que as pernas e os braços se agitavam em violento escoicinhar. E a barriga movia-se de tal maneira que mais parecia uma montanha a desabar. De tanto dormir de costas o lombo, a parte mais apreciada da beleza na espécie porcina, estava liso como uma tábua de engomar.
Dona Porquinha, depois que passaram a dormir em camas separadas, habituou-se à maneira de dormir do marido.
Um dia, o Lobo Mau conseguiu entrar em casa enquanto os porquinhos dormiam.
Foi-se à Dona Porquinha e, enquanto ela se ia virando como um frango no espeto, foi-a deglutindo paulatinamente.
Acabado aquele repasto, como ainda estava esfomeado, tentou também comer o Sr. Porquinho. Mas neste caso foi mais difícil porque o Sr. Porquinho, mesmo a dormir aplicou-lhe tantos pontapés e bofetões que o Lobo Mau teve de desistir, tendo só conseguido abocanhar-lhe um pequeno pedaço da parte de baixo da barriga.
Quando o Sr. Porquinho acordou percebeu logo o que tinha acontecido. Depois de chorar a morte da esposa, o Sr. Porquinho, que era um tanto filósofo, pensou lá com os seus botões:
«Afinal há males que vêm por bem, pois se não fosse esta minha maneira de dormir já estava a estas horas no papo do Lobo e assim a única coisa que ele me conseguiu comer foi um pequeno bocado que, aliás, até já nem me faz falta porque perdi a minha companheira».


Pedro Oom


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