27 de outubro de 2013

Short cuts - Amizade



O menino e seu cão
O menino e seu cão. O cão e seu menino.

Fazia um calor senegalês, na comunidade do Areal, nos arredores de Brasília. Sol escaldante, enquanto a população prestigiava a entrega de um parque novo. Meninos e meninas jogando bola - nessa fase da vida, para eles, pouco importa a intensidade do sol - dispunham da felicidade de ser criança, sem importar-se com outra coisa qualquer.



Num canto do parque, uma solenidade oficial de entrega da obra. Em meio às pessoas que acompanhavam o evento, percebo um garotinho de pouco mais de dois anos, em companhia de um cão.  Meu olhar fica paralisado e passa a segui-los.

Percebo que a amizade é nova e verdadeira. De vez em quando, o cão escolhe outro lugar à sombra, entre as pernas das pessoas que estão ali. O menino o acompanha. Senta-se ao lado. Olha nos olhos do cão com um olhar de quem não abre mão da amizade.


Falam mutuamente a linguagem silenciosa e cúmplice dos inocentes. O cão sabe que o carinho é sincero. O menino não faz ideia da vida, mas percebe a natureza amiga do cão. Sob a sombra, entre as pernas de gente grande. Os dois, nem ai. Selam uma amizade definitiva. Lá fora, faz um calor senegalês, na comunidade do Areal, nos arredores de Brasília.

Os livros de T

O recado de T
Sexta-feira à noite. Chego em casa e encontro um pacote do correio. Quem me manda é Ivone Stepansil. Dentro, outro pacote com um recado da Teresa Guerreiro. Deduzo ser o livro que desejei dar de presente de aniversário a meu pai, quase um mês atrás.

Os livros de Teresa (no alto, à esquerda), para atravessarem o Oceano,
contaram com o empenho de Ivone (no alto, à direita) e Celso
(embaixo, à esquerda). Hoje, chegaram às mãos de meus pais.  

Sim, estou certo. Antes de abrir, penso no tanto de amizade que o pacote contém. A de Ivone, que conheci tempos atrás, quando estive em Lisboa. A de Celso, que me apresentou Ivone. A de Tereza, que conheci por meio da internet. Quanta gente se envolveu para que aquele pacote chegasse às minhas mãos e, por elas, ao meu pai.

Livros da T.
Abro e vejo que Teresa fez mais do que me mandar um livro. São quatro. Há também um recado escrito no envelope e muitos postais lembrando um sentimento de orgulho por sua terra, Portugal.

O cansaço só não vence a minha alegria. Aviso o meu pai que seu presente, finalmente, chegou. E dou o  dia por findo.

Amizade de domingo

Hoje, domingo, céu aberto e azul. Pego o carro e vou ao encontro de meus pais. Moram aqui perto, no mesmo condomínio. Encontro Isabel, minha mãe, feliz como criança. Cadê meu pai? Está no quintal.


Viegão, de chapéu, cuida de proteger a primeira florada de um abacateiro que ele mesmo plantou, sete ano atrás. Entrego os livros pro meu pai e os cartões para a minha mãe. Os dois ficam em êxtase. Minha mãe me chama para ver outra "maravilha". Senta-se ao gramado, feito criança, e se orgulha da jaboticabeira e dos seus frutos. Isabel está feliz com suas flores e seu pomar e seu jardim. Me faz tirar fotos, muitas. Junta o marido, os netos, por fim, o filho.

Isabel e suas jaboticabas. Alegria de criança. 
A florada do jardim de Isabel. 
Os Viegas em sua praça preferida. 
Alegria de domingo.
Penso que a vida nos fez mais do que pai, mãe e filho. Somos amigos, como só os domingos compreendem.

A biblioteca de meu pai

Meu pai, seus melhores amigos e uma dose de Napoleon.
Os livros estão entre os melhores amigos de meu pai. Ele não larga os livros que ganhou. Deixa o quintal e o abacateiro. Corre para a biblioteca e me chama. O presente merece um brinde. Busca uma garrafa de Cognac Napoléon na prateleira. Duas taças. Um brinde às amizades. Novas e antigas. Pede o endereço de Teresa, quer agradecer-lhe por escrito. Meu pai, seus livros, nossa amizade.

Plantas amigas

Orquídeas do meu jardim. 
Faz um ano e meio chegamos a esta casa. Antes de tudo, meu combinado com  Mara deu tratos ao jardim. Hoje, na volta da casa de meus pais, percebo que o jardim nos responde com flores e alegria. As orquídeas se abriram numa demonstração de que a beleza da vida está nos detalhes.

Elis e a canção dos amigos

Haverá forma melhor de concluir esse post? Elis Regina - Canção da América. Porque o domingo e as amizades merecem.


2 comentários:

T disse...

Assim o longe se faz perto. Um grande abraço Maranhão, para si e para os seus:) E claro, fiquei comovida:)

Luísa disse...

Gostei de ler esta "ode" à amizade nas suas diversas formas. Podem ser "short cuts", mas ilustram uma das coisas mais valiosas na vida.

E também gostei de ver uma jabuticabeira (palavra difícil!). É diferente e lembra as couves de Bruxelas na forma de terem o fruto (agarrados ao caule). :)