5 de março de 2009
Quem escreveu?
Primus inter pares
Há no Porto um “café” onde se pensa. Há no Porto um “café” onde se escreve. Há no Porto um “café” onde se discute. Há no Porto um “café” onde se é intelectual pelo preço acessível, a qualquer bolsa, de “meia de leite e torrada bijou”.
Tem um ar recatado, simples: o aspecto, doce e calmo, de um domingo de Novembro. Mas não se iludam, amigos: confesso que este “café” me preocupa e intimida. Que me suam as mãos, quando lá entro. Que me sinto mesquinho e sem valia, quando me atrevo a mergulhar na mansuetude quase líquida da sala.
Nesse “café” do Porto, os intelectuais contam-se pelo número de clientes. Há-os verdadeiros e de pacotilha, circunspectos e irreverentes, académicos e revolucionários. Há-os de todas as escolas e matizes, novos, velhos, morenos, bexiguentos, altos, ínfimos, com rendosas conezias ou dificuldades de dinheiro. Escrevem, pintam, dissertam, analisam, definem. Sobretudo definem, quer dizer: classificam de acordo com a morfologia conveniente, etiquetam, intitulam, fossilizam. É um “café” virado do avesso, onde as janelas dão para o íntimo da pequenez das coisas: só por se estar olhando a rua através das cortinas ondulantes, a rua e o seu sentido hieroglífico tornam-se perigosamente inexistentes. Depois, quando se vem, de novo, para a alegria do sol, é indispensável e urgente reinventar a rua sem limites até ao mais inútil e inofensivo dos disfarces. E para quê, afinal?
Pois, senhores, é bem fácil a resposta: para que, à mesma hora do mesmo dia igual, qualquer cliente possa fechar os olhos à presença do mundo, pensando, discutindo, escrevendo. E registe-se, para uso dos iletrados irrecuperáveis, e nosso próprio conforto espiritual, que isto de latim é uma bela coisa.
(não vou deixar pistas, pois tudo se tornaria demasiado evidente):)
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10 comentários:
Bom dia, Teresa.
Julgo ser o Café Majestic, na grande cidade do Porto.
Não quero mentir, mas sensivelmente há cerca de um ano, este digníssimo café, já foi postado.
Um bom dia, para si.
Fernando
Fernando,
É claro que é o Majestic, um dos ex-libris da "Invicta", mas a pergunta é sobre "quem" escreveu o texto e não sobre "o local" representado na fotografia.
Aguardo com curiosidade as sugestões (caso as haja).:)
Não faço ideia. O MEC?
Isso aí Teresa, é que já são áreas, que me ultrapassam completamente!;)
Mas vai haver, de certeza absoluta alguém, que frequenta o " Dias que Voam ", que vai efectivamente advinhar:))
Fernando
T.,
Do que conheço do MEC, a ironia acaba por se sobrepor a este tom acutilante mas mais contido que encontras no post. Posso avançar que o autor destas linhas também escreveu textos completamente diferentes e de outra tipologia (se bem que igualmente literários).
Fernando,
Não sei... vamos ver se alguém adivinha.
(é que há coisas que ficam meses por adivinhar, quer sejam fotografias como as que a T. aqui coloca (eu também, mas em menor quantidade), quer sejam citações disparatadas como umas que postei em tempos):)
Só para concluir: espero que o Majestic tenha sido reabilitado pois, em tempos, fiquei triste com um certo ar de abandono a que estava votado.
É um facto, que há muitas adivinhas, sobretudo postadas pela T., que ainda não foram advinhadas.
Também é certo que a Teresa, tem postado algumas.
Mas no que me diz respeito, é que eu variadíssimas vezes, tento encontrar resposta, sou capaz de estar horas, em busca e efectivamente acabo por não encontrar.
Já agora, também lhe digo, que tem acontecido, eu conhecer o local e quando vou para comentar, esta já tem a resposta certa. E ainda bem.
A Teresa sabe perfeitamente, que aqui no " Dias que Voam ", existem pessoas, que são francamente boas e rápidas, em relação ás adivinhas.
Para terminar, tem passado muito tempo que não paro na " Invicta".
Claro que tenho pena, mas não dá para tudo.
Quando me dirijo, para Braga, abrando sempre um pouquinho, só para matar saudades. Não tenho conhecimento, como se encontra o " Café Majestic ". Mas isso, com um simples telefonema, logo saberei.
Continuação de um óptimo dia.
Fernando
Andou às voltas mas não consegue lá chegar. De inicio, tal como a T. também estava inclinado para o MEC, mas está bonito demais para que fosse ele a escrever
Caros comentadores,
desta vez penso que não irei resistir e, lá para mais tarde, vou postar um outro texto do mesmo autor a fim de aguardar a precisão da resposta:)
De acordo com Germano Silva (ver: http://regimedemeiapensao.blogspot.com/2009/03/em-louvor-dos-cafes-do-porto.html) a crónica de Daniel Filipe é sobre a confeitaria Primus que se situava junto à Praça D. João I (de acordo com outras pessoas no actual Montepio Geral - de frente à entrada lateral do Rivoli)
É bem possível, caro anónimo. Acontece que não existem imagens de arquivo da confeitaria Primus (pelo menos não as encontro) e dado tratar-se a crónica do texto de imprensa mais próximo do texto literário, fica a imagem do Majestic, pois aqui a essência do texto, prende-se sobretudo com algumas tertúlias de intelectuais.
Agradeço o facto de ter enriquecido o post com o seu esclarecimento.
Aliás, o título da crónica de Daniel Filipe 'Primus inter pares' parece realmente remeter para a extinta confeitaria, sendo muito bem conseguido o duplo sentido do título.
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