19 de dezembro de 2006

Georges Simenon

Image Hosted by ImageShack.us

"Noite caída, outras cortinas faziam-me sonhar, quando através da vidraça apenas translúcida, entrevia em silhuetas, um homem e uma mulher que iam e vinham como se o par que formavam estivesse ao abrigo do mundo e das suas realidades.
Tinha fome da vida e errava pelos mercados a contemplar ora os legumes, ora os frutos multicores, ora os tabuleiros de flores.
Nariz exagerado, sim minha pequena Marie-Jo, pelo qual eu aspirava também não só pelas narinas, mas também pelos poros, as cores, as luzes, os odores, os ruídos da rua"

George Simenon, Memórias Íntimas, livro dedicado à sua filha Marie-Jo.

Sim era Simenon , o escritor que eu queria lembrar. Todos o recordam pela criação daquele que se tornou o seu alter-ego: o Comissário Maigret. Dos escritores mais lidos e mais prolíferos do mundo: escreveu 192 obras.
De origem belga, devemos-lhe das mais interessantes leituras sobre Paris, a vida de marinheiros em vários portos, a  história da pequena gente por quem ninguém se interessa, as empregadas, as prostitutas, o talhante, o canalizador, o empregado de escritório. É um escritor policial sim, mas os crimes dos seus livros são suaves e escondidos. O verdadeiro crime está diluído no que não aconteceu. Tiroteios e sangue em excesso? Não existem na obra de Simenon.
Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us

Diz  Umbral que Simenon seria muito mais conceituado se tivesse escrito menos. Talvez. Mas ainda bem para nós que ele assim não exerceu. A Bertrand, os Livros do Brasil ( através da Vampiro) e a Dom Quixote, fizeram-nos o favor de o editar em português.


Apresento as capas de algumas edições francesas antigas. Porque são efectivamente lindas, graficamente perfeitas e pertencem à minha estante. Aliás Simenon deveria ser lido sempre em francês: perde-se algo de profundamente genuíno nas traduções, embora as antigas da Bertrand sejam passáveis.

Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us
Mas apesar de gostar de toda a obra deste escritor (leiam sem falta a Sonsa, editado há muitos anos pelos Livros do Brasil), tenho tenho um afecto especial pelo Comissário Maigret. Pela mulher simples e atenta. Pelos seus passeios e rede de relações. Pelos medos, pela vida doméstica, pela consciência do incontornável.
Esta página é o texto final do livro "O revólver de Maigret": nem quis transcrever, de tão perfeita a edição assim.
A ternura, o quotidiano, os segredos: quem disse que um policial não pode ser uma obra prima?
É um bom conselho para o período de Festas: ler Simenon. E ter consciência que não são só os Booker Prize e os Nobel que traduzem os grandes escritores. E é isto que eu queria dizer.

4 comentários:

João Ventura disse...

As descrições do que Maigret diz e faz dizem-nos mais sobre o que é um ser humano do que vários manuais de antropologia...

Bom fds

JV

Miguel Gil disse...

Gostei muito da apresentação da obra e do autor. Bonito.
Quem tão bem usa as palavras para descrever a obra de Georges Simenon merece bem os livros que lê.

T disse...

Bom fim de semana João:)

T disse...

Obrigada Miguel:) Beijinhos:)