31 de janeiro de 2013

a culpa é do vinho

os governantes portugueses são uma espécie única com um complexo e absolutamente singular modo de processamento cognitivo: perante um problema (seja de que natureza for), arranjam a pior e mais abstrusa solução possível.
e cada dia conseguem uma pior que a anterior.
por exemplo, quando faltou a chuva, a ministra cristas resolveu o assunto... rezando.
agora vem uma proposta absolutamente delirante para resolver o problema dos suicídios em portugal:
aumentar o preço das bebidas alcoólicas !!!!
não passa pela cabeça destas mentes peregrinas que nem todos os deprimidos são dados a beber álcool nem que a solução para um problema é atacar uma das suas possíveis consequências, em vez da questão de fundo.
se uma pessoas está desempregada, a solução claro que não é criar condições para aumentar os postos de trabalho disponíveis.
a solução destas aves raras é aumentar o preço do álcool, ou mais radical ainda, fechar coercivamente todas as tascas, bares ou outros locais fomentadores do suicídios (cortar as árvores e proibir barrotes de sustentação de tectos também me parece uma boa ideia...).
tirando aquela parte escondida que é, se aumentar o preço do álcool é porque cobramos mais impostos mas ninguém nos pode acusar porque não é por causa do dinheiro, mas sim pelos suicídios.
todos sabemos (o governo devia saber mais que ninguém) que não é o álcool que leva ao suicídio.
o álcool é aquilo que vai mantendo as pessoas vivas antes de já nem isso lhe valer a pena para acharem que vale a pena.
claro que o aumento do preço do álcool leva ao fecho de muitas empresas e a mais despedimentos e a mais depressões e a mais suicídios, mas isso passa a resolver-se com o aumento dos impostos para as cordas; portagens em pequenas pontes, ou acesso pago a encostas escarpadas.
este é um governo de ineptos.
este é um governo de sanguessugas acéfalas.
este governo leva ao suicídio.
está na hora de o proibir !!!


30 de janeiro de 2013

em que ficamos?

um estudo publicado pela american sociologial review sobre a igualdade, trabalho doméstico e frequência sexual no casamento (egalitarianism, housework, and sexual frequency in marriage), conclui que os homens que se dedicam às tarefas tradicionalmente realizadas pelas mulheres em casa, têm menos relações sexuais do que aqueles que se comportam como machos.
a explicação para o facto tem a ver com os padrões associados ao macho e ao que a fêmea espera do macho.
assim, seriamos levados a achar que as mulheres desses homens perdem o desejo sexual pelo macho efeminado e os machos efeminados perdem o apetite pela fêmea.
a simples ideia de estar um pouco mais cansado que o habitual porque tem que dar mais ao cabedal a aspirar a casa, estender a roupa ou a fazer o comer, não entra nos considerandos.
estamos perante apenas a atitude de galo que enche o peito para a galinha se pôr por baixo.
ficamos a saber nós, homens, que o melhor (se queremos continuar a ter sexo regular) é  abandonar essas mariquices de tratar dos trabalhos domésticos.
nada como futebol, carros e coçar os ditos para estarem preparados para a função.

o problema deste estudo é que conclui uma outra coisa diametralmente oposta daquele que também conclui:
é que o deixar de realizar os trabalhos domésticos pode levar as fêmeas aq recusarem o sexo como represália.
então como ficamos?
lavo ou não a loiça hoje à noite?
resigno-me à minha falta de apetite sexual ou à represália alheia?
a bem ver, uma e outra levam à mesma coisa..


i won't



o governo britânico iniciou uma campanha étnica contra os búlgaros e os romenos.
mais civilizada que outras limpezas étnicas feitas em anos passados em latitudes não muito distantes.
a ideia, igualmente existente entre nós, de os imigrantes virem tirar trabalho aos desempregados dos países de acolhimento é tão racista como estulta.
não só os imigrantes apenas ficam com os trabalhos que os nacionais não querem, como os aceitam em condições que os nacionais achariam humilhantes.
mas fica sempre bem aos governos e seus apoiantes para tirar a água do capote das culpas do desemprego e da falta de políticas de emprego.
a campanha britânica é execrável, como muitas vezes sabem ser por aquelas paragens.
nada de novo.
principalmente vinda de uma nação que cresceu a mandar os seus nacionais para todo o mundo e onde conquistou o poder produtivo à força de balas e outros objectos mais cortantes.
a boa nova é o grande movimento, algumas vezes cheio de humor, com que muitos britânicos respondem ao seu desmiolado e racista governo.
a grâ-bretanha está cheia?
pela minha parte estou cheio 'desta' grã-bretanha!!


aqui podem ver algumas das 'respostas' enviadas ao guardian

27 de janeiro de 2013

Memórias de Mafra ou porque fomos felizes num local


Há terras onde fomos felizes. Um dos motivos, terá sido a descoberta de um jovem poeta. Capaz de criar imagens fortes com as palavras, este rapazinho começou, em gesto de provocação, a trazer para as aulas as folhas arrancadas à antologia, fingia-se não entender. O que interessava eram os textos literários em estudo, desde que as páginas coincidissem… Com o avançar do ano, o Horácio veio e revelar-se, tendo conquistado o prémio literário (modalidade poesia) que, então, foi criado na secundária. Com um nome assim, as expectativas quanto à sua escrita  eram de responsabilidade. Chegou, por essa altura, a decisão pessoal de entrar em período de tréguas com os livros daquele que viria a ser o nosso Nobel… É que, até à data, nada parecia conseguir ficar à altura de O Ano da Morte de Ricardo Reis. Constituiu experiência única a leitura do romance então recente – Baltasar e Blimunda ganhavam vida sempre que, num horário com inúmeros buracos entre tarefas e a incluir o sábado, se encontrava, sob as árvores, um banco convidativo, a escapar ao bulício da escola. Corriam pela vila  histórias exageradas pela imaginação popular: os ratos tomavam conta do espaço deslocando-se, em profusão, por caminhos subterrâneos que atravessavam o local… Na secretaria da secundária, os roedores apareciam, quase fossilizados, dentro de pastas de arquivo. O convento, na sua ostentação de oiro dos brasis, assenhoreava-se do espaço, excessivo no estilo arquitetónico. Chegou o dia ansiado – uma autorização especial para visitar a biblioteca do palácio, até então vedada ao público. Mesmo tratando-se de tempos diversos, a sensação de entrar num espaço proibido do saber conduziu à associação a outro grande título : O Nome da Rosa. Na imagem, um detalhe de outro compartimento do palácio, utensílio cuja finalidade conseguirão indicar.

25 de janeiro de 2013

Ajudar a quem precisa



Tenho o imenso privilégio de ter amigos excepcionais. Um deles é  a Isabel . Pedia-me ela ontem ao jantar, Teresa desencadeia lá através do Facebook e pelo blogue  uma rede de solidariedade para ajudar os que estão a passar dificuldades. Eu passo a explicar. A Isabel trabalha a dar apoio a famílias em risco. Um destes projectos é uma "lojinha" que oferece roupa, brinquedos e outros bens às famílias que deles necessitem. 
O espaço é simpático e pretende desdramatizar e dar dignidade a um momento difícil pelo que está a passar muita gente. Contou-me ela que se esvazia continuamente, tal o afluxo de pessoas.
 Portanto, se tiverem roupa de qualquer tipo. brinquedos, coisas de casa, que já não vos são úteis mas que podem ajudar alguém, contactem-me pelo canjinha@gmail.com ou o  telefone 213240520
 Caso necessário eles vão buscar. Ou digam-me e eu encaminho-vos. Porque ainda há profissionais de excepção e solidários e em quem eu acredito plenamente. Obrigada a todos que quiserem colaborar.
Foto de Peter Marlow, Agênciaa Magnum.

24 de janeiro de 2013

O mais importante



















"O mais importante na vida não é a situação em que nos encontramos, mas a direcção para a qual nos movemos" Oliver Wendell Homes (1809 - 1894), escritor norte-americano. Esta frase encima a contracapa do Público de 23 Jan. 2013.
Ligeiramente abaixo, no lugar e em vez da crónica do Rui Tavares, aparece uma notícia com o titulo "Ministro diz que idosos doentes devem "morrer rapidamente para bem da economia".
Apesar de não se tratar de um ministro de Portugal, mas sim do Japão, fico estupefacto a pensar em que direcção nos movemos. Não pode ser verdade.

Foto retirada em aqui

Lavar a alma

Por vezes há que escrever e descrever. No caso, relacionado com os dias conturbados que se passaram aqui no blogue. Embora tudo esteja normalizado agora, espero eu, não posso deixar de sentir um certo amargo de boca e um certo desconforto. Se o apoio dos nos amigos e leitores se fez sentir, nomeadamente através do correio electrónico e das redes sociais, fica porém um travozinho a azedo de termos sidos denunciados por spam ou quejandos. Ainda não consegui ultrapassar lá muito bem o odioso de ter um espaço colectivo ,que acarinhamos há quase dez anos, nomeado como bloqueado e com conteúdos impróprios. Lá passará, devagarinho.  Sei que o apogeu dos blogues passou. No entanto desejaria que este continuasse a escorrer com naturalidade, carinho e afabilidade. Uma boa companhia para as tardes chuvosas de domingo e as madrugadas sem sono. E era isto.

23 de janeiro de 2013

A cada um, a sua neve


Há quatro dias, após o vendaval que se fez sentir horas a fio, a praia mostrava-se assim: a areia cobria-se de espuma trazida pela tempestade marítima (os naturais da terra dizem que é muito benéfica para a saúde, contendo partículas de algas, o que contraria a ideia de poluição, a que muitos a associam). Na segunda feira, ao passar os olhos pela crónica de Miguel Esteves Cardoso no Público, o autor referia-se-lhe como sendo uma substância «pestilenta e gordurosa»… Penso que terá sido – com todo o respeito pela opinião alheia – uma despromoção , isto de acordo com os nativos do litoral sintrense, que frequentam os estabelecimentos de venda de material de pesca e cumprem o ritual de ,na sexta feira anterior ao domingo de Páscoa, apanharem e venderem mexilhão para o repasto desse dia (cá por casa é cozinhado com os coentros da horta, fugindo-se às receitas mais comuns). No caso pessoal, ao olhar a areia (e ainda sem ter lido a crónica que sairia três dias depois), dei comigo a pensar «a cada um, a sua neve».
(sim, é bom estar de volta, mesmo com o recurso a balões de ensaio, observação de índole mais particular)

Regresso

Voltámos, esperamos de vez.
Obrigada a todos que se interessaram e se entristeceram connosco:)

20 de janeiro de 2013

Sul

As belas hortaliças do Sul e a maravilhosa laranja algarvia. Sabores que encantam. Silves.


O senhor Vasco

Os maravilhosos tomates rosa do senhor Vasco no Mercado de Silves.

A Casa Verde em Silves


A Casa Verde é a retrosaria que todos gostaríamos ter ao pé de casa. Fundada há 90 anos, resiste valentemente em Silves. O tornado levou-lhe o painel publicitário da Âncora. A dona ainda está inconsolável. É uma loja a visitar, sem dúvida. E a comprar alguns destes tesouros.








17 de janeiro de 2013

Como se contraria uma frase feita sobre árvores




Aprende-se a fugir ao trânsito por caminhos que, com o tempo, se vão desvendando. Desde a passada semana que o olhar se prende à imagem da árvore tombada no campo, a lembrar um  ser humano derrubado. Um pensamento... «ora aí está algo a contrariar a ideia tão ouvida na infância e juventude “as árvores morrem de pé”». Em poucos segundos – não passe algum acelera neste estreito caminho – tira-se a fotografia.

16 de janeiro de 2013

Chá e palavras

Enquanto bebo o meu chá de rooibos, assim como assim não faz mal a nada, penso na velocidade destes últimos meses. Numa sociedade em que nada é dado por adquirido porque em convulsão profunda, em que se deseja estabilidade, segurança e saúde. Existe uma calma aparente, todos tentamos uma contenção de emoções que permita a gestão deste dia a dia tormentoso.
Logo de manhã um autocarro cheio de pessoas que não costumavam usar autocarro, de lancheiras e pesados agasalhos. Alguns lêem, outros de olhar perdido deixam escorrer a paisagem. Eu aproveito e enumero as tarefas do dia. Mas há algo diferente e eu não sei definir. Um pesado silêncio por vezes. Para se conseguir suportar a crise sem a nomear. Porque só o nome incomoda.
Não sei. Entretanto bebo o chá e espero que a noite na cidade adormeça tranquila.

queluz no novo mapa autárquico pensado com os pés

o senhor silva acabou de promulgar a nova lei autárquica que redistribui a organização das freguesias em portugal.
independentemente dos recursos que muitas freguesias vão colocar nos tribunais, o agrupamento das freguesias de queluz no no mapa é uma coisa que não lembra ao diabo, mas lembrou à unidade técnica para a reorganização do território.
segundo estes senhores, que propõem dois desenhos para a divisão do concelho de sintra, a reorganização das freguesias da cidade de queluz deve ser feita do seguinte modo:
1. união das freguesias de queluz e belas
2. união das freguesias de massamá e monte abraão.

para tal considera o facto de queluz e belas terem 'constituído uma unidade administrativa no passado' (também podiam ter considerado o facto de belas ter sido concelho...) 'possuindo relações históricas e territoriais assinaláveis' (as mesmas que tem com a amadora e menos do que tem com queluz de baixo...)
e partindo vagamente dos mesmos pressupostos relativamente a massamá e monte abraão (ambas antigas localidades da freguesia de queluz e desanexada aquando da passagem de queluz a cidade e a sua divisão em 3 freguesias.

as minhas dúvidas (que seguramente não assaltaram a unidade técnica) são:
1. a cidade de queluz vai ficar com duas freguesias em união de facto e uma terceira em união com uma outra localidade externa à cidade.
ou seja, metade da futura união das freguesias de queluz e belas vai pertencer à cidade de queluz e a outra metade não.
não existindo, imagino eu, a actual divisão territorial, até onde passaremos a considerar o território da cidade  de queluz se a antiga linha de divisão da freguesia deixa de existir?
2. aquela unidade territorial conhecida como massamá norte tem cerca de 90% do seu território na freguesia de belas.
de acordo com o novo mapa, massamá vai continuar a estar dividida em duas freguesias: a de massamá com a sua parte sul e uma pequena parte do norte, e a imensa maioria da parte norte na outra ponta, em queluz ou belas.
3. reorganizar o território devia significar: reorganizar.
afinal apenas significa juntar coisas, mesmo que as antigas coisas não fizessem sentido, como no caso de massamá norte.

a minha conclusão só pode ser que esta gente pensa com os pés...

a reunião do governo na clandestinidade

os governantes portugueses perderam as estribeiras.
diria mesmo que estão loucos varridos.
não porque o relvas tenha ido passar o fim de ano ao copacabana palace com o dias loureiro e se encontrou com paulo maluf (que em tempos esteve preso por corrupção e está na lista the grand corruption cases database project, organizada pelo banco mundial e a onu). 
afinal, e como diz o relvas, a vida privada dele é com ele (a ideia de sentido de estado que esta gente tem está próxima daquela que teria uma criança de 5 anos).
isso são amendoins, como diriam os americanos.
aquilo só custa numa noite o que a maioria dos portugueses com trabalho não ganha num mês, e a crise não tem que ser para todos, que isto não é uma democracia.
aquilo que me espanta hoje (sim, este governo ainda me consegue espantar!!) é terem organizado uma conferência que parece a cópia de uma reunião da comissão política do comité central  dum partido na clandestinidade.
um partido clandestino tem medo que a polícia lhe entre pela porta dentro e levem todos presos.
este governo parece ter medo que o povo lhe entre pela porta dentro e lhes faça ver que o mundo real é mundo diferente do que aquelas mentes acham no seu cérebro de power point.
fazer uma conferência com o suposto propósito de 'refundar' o estado, mas esconder a discussão dos portugueses é o mesmo que dizer que não querem que saibamos como nos querem tramar.
mas que podemos ter a certeza que nos vão tramar, e muito.
fazer secreta uma reunião que devia ser o tema central de discussão de TODOS (sim existem maiúsculas no meu teclado) não é apenas um absurdo, é UM CRIME !!!
eu até imagino que o que ali se vai dizer valha o mesmo que aquilo que eu aqui estou a escrever.
aquelas cabecinhas já sabem o que querem e estão apenas à espera de um relatório qualquer encomendado a uns consultores para eles não terem que dar a cara (ou aquilo que tecnicamente se chama cara).
mas não precisam de ser tão descarados quanto ao desprezo a que votam os portugueses.


(o ministério do vitor gaspar ter a suprema lata de vir dizer hoje que afinal até recebemos mais todos os meses não chega a espantar-me: a lata dele é tanta como a sua incompetência e são ambas incomensuráveis.)


15 de janeiro de 2013

A República das Piiiiiiiiiiiiiii


























Sexta-feira li no Público um artigo de que gostei bastante, intitulado ‘A República das Piiiiiis’ de João Magueijo , o 12º da série ‘Que Valores para 2013?’.
O artigo fez-me pensar.
É uma visão da situação portuguesa/europeia quase coincidente com a minha. Vejamos:
“Como Skvorecky notava, as "piiiiiis" que tinham antes vendido o seu país aos nazis eram as mesmas que agora acolhiam os soviéticos (e mais tarde, muito depois de o livro [A República das Piiiiiis] ser publicado, acolheriam o capitalismo selvagem, sem que ele o soubesse). O mesmo se passa no nosso caso: não tenham dúvidas de que em tempos de fascismo os nossos primeiros-ministros teriam sido rapazes de sucesso. Mas de certa forma estamos a bater no ceguinho. Se eles (e nós, por extensão) fizeram figuras tristes e agora estamos a pagar por isso, houve quem fez pior e se está agora a rir. Os usurários mundiais nem sequer construíram túneis inúteis: construíram castelos de valores inexistentes, que continuam a crescer e a alimentar a sua ganância. Até isto se resolver falemos de tourada, porque não faz muito sentido discutir o estado da nossa sociedade, e o demais, em 2013.”
E continua:
“Sim, éramos um país de pobres que passou temporariamente a um país de novos-ricos. Mas agora somos um país de novos-pobres: miúdos cheios de talento desempregados há dois anos, pessoal de ponta a emigrar para o estrangeiro, médicos educados cá a colmatarem as faltas de sistema de saúde inglês... um desperdício óbvio de uma geração. Em vez de usarmos estas fontes de rendimento, deixámos os tanques financeiros entrar pelo país, para aumentar os impostos e baixar os salários, já de si entre os mais baixos da Europa.”
E conclui:
“Muita da nossa dívida, e consequente austeridade, não é legítima, em perfeita analogia com as dívidas contraídas pelas prostitutas, e que as mantêm nas malhas dos seus donos. Se a nível mundial algo tem de ser feito para refrear os chulos financeiros, a nível nacional um corte com o passado seria um primeiro passo. Ou então que se dê o Prémio Nobel da Economia à Dona Branca. E viva a República das Piiiis.”
Infelizmente a versão online do artigo está reservada a assinante.

12 de janeiro de 2013

Bowie, «The next day»: uma história de bastidores



                 Foto: Bowie com a mulher, Iman /Andrew H. Walker/Getty Images para a DKMS

Uma das maiores surpresas musicais dos últimos tempos é, sem dúvida, a gravação do tema «Where are we now?», faixa do álbum «The Next Day», tudo em completo sigilo. Tony Visconti, o produtor, conta o que sucedeu, revelando alguns dos planos de David Bowie. Nos anos 70, o cantor trabalhava com uma equipa de cerca de 45 elementos, hoje só conta com um colaborador, no seu escritório de Nova Iorque. Não tem um «manager» pessoal. Afirma uma fonte próxima do cantor «ele sabe ser discreto e ficar nos bastidores, quantas vezes, nos últimos 10 anos, viram fotografias de David? Talvez as de dois ou três paparazzi... Bowie não é um recluso, mas só aparece em público quando bem entende». Rob Stringer, presidente do grupo Sony Music Label, teve conhecimento do trabalho deste músico de 66 anos há apenas um mês, quando foi convidado a ir ao estúdio para a audição algumas faixas. Afirma Tony Visconti «Bowie é um apaixonado pela História da Inglaterra Medieval e pela História Russa Contemporânea o que fornece excelente material para uma disco de rock». Sigilo absoluto foi a exigência desde o primeiro momento, a par de diversas mudanças de estúdio, sempre que os proprietários deixavam escapar informação sobre quem lá se encontrava a gravar. Terá o secretismo influenciado o trabalho? «Sem dúvida, falávamos enquanto grupo, partilhando a nossa experiência de insanidade e frustração, enquanto David se limitava a sorrir, impávido e sereno, o que conduziu os restantes a um completo estado de neurose». De momento, encontram-se 29 temas gravados, embora a edição de luxo possua 17 faixas. A surpresa, quando se pensava que Bowie se havia retirado da cena musical, foi  a revelação sobre o seu próximo álbum, a sair dentro de dois meses. Fonte: The Guardian (adaptação livre)


10 de janeiro de 2013

A criançada não engana...




Ontem, 9 de janeiro: Merkel  na Chancelaria em Berlim, a ouvir cânticos do Dia de Reis/fotógrafo: John MacDougall/AFP (com legenda da escriba)

5 de janeiro de 2013

Misturas

Os riscadinhos e a malhinhas. Lentamente vão ficando amigos. Encostar manchas e riscas é que ainda não. São puristas, o nossos gatos.

O arco e a casa

Gosto da ideia de atravessar o arco para chegar a casa.


4 de janeiro de 2013

De mãos atadas ou os rankings das escolas




L. tem quinze anos e não consegue concluir o 6.º ano. O pai regressou de longa emigração, trazendo na bagagem uma doença que passa à mãe, e os confina a um espaço doméstico insalubre . O irmão mais velho do jovem evidencia comportamentos de risco, receando-se que lhe venha a servir de modelo. A informação chega, qual murro no estômago, a par do pedido de algumas horas de apoio individual, na escola. A técnica de serviço social (sim, em finais do passado século era um recurso existente), ao assistir à reação da docente de apoio, deixa escapar um «se ficas nesse estado de cada vez que há miúdos sinalizados, passas a depender de apoio clínico e acabas em casa por tempo indeterminado, tens de ganhar juízo…».
S.,  uma rapariga da mesma idade, não consegue sair do 5.º ano: cuida dos irmãos mais novos, falta às aulas, parece viver diversos papéis que lhe não deveriam caber. De forma casual, é uma manhã encontrada pela professora, a vaguear pela vila, a 10Km de casa, há quase 14 horas sem alimento «fugi a uma sova sem motivos, dormi na estação de comboios e roubei uma manta de um estendal, para não gelar». Fica a promessa – foge-se aqui à regra – de que, caso o risco se repita, a miúda telefonará à professora de uma cabine junto à porta de casa, com chamada a pagar pelo destinatário, pois a estação ferroviária é, durante a noite, local deserto e inseguro.
A escola pública é mais do que isto, caso contrário, cair-se-ia numa daquelas reportagens televisivas plenas de chagas sociais e ávidas de audiências, mas os estabelecimentos oficiais são também o que aqui é retratado, com respeito pelo anonimato dos protagonistas nos retalhos verídicos  em resumo. Ao longo destes (e de tantos outros processos) foram visitadas instituições oficiais para acolhimento, encaminhamento profissional, cuidados de saúde. Poucas portas se entreabriram, outras revelaram-se em plena ineficácia, as famílias pouco ou nada cooperaram… Duvida-se que caiba à escola a resposta para problemas de tamanha complexidade … Tudo leva a crer que não, embora se torne impossível fechar os olhos e agir como se a função – e como isso seria aliciante – se limitasse a cumprir os programas oficiais das disciplinas, sem obstáculos e com vista ao sucesso nos exames nacionais.
Sem vitimizar – tantos jovens com sucesso nos estudos e sem transferência de problemas pela sua inexistência – descobre-se que são diversos os que escapam às little boxes , os que não conseguem passar pela vida sem sobressaltos.
Fugindo ao apelo fácil do desestruturado, surge a reflexão a propósito da notícia de jornal que hoje informa – o que era mais do que imperativo ao longo de tanto tempo – a medida de passarem os rankings das escolas a contemplar a variável «contexto social» (acrescentaria afetivo, cultural, de origem geográfica…). Insiste-se, uma vez mais, que só isso não basta: resultados relativos a estabelecimentos inseridos em zonas de tecido social complexo ou em isolamento  virão comprovar o que muitos já suspeitam ou conhecem, importante seria quebrar o ciclo e  - visionarismos à parte – delinear estratégias na tentativa de instaurar a equidade, despindo-a do vazio do conceito.

Imagem: do blogue territorioteip

A sul

a caminho do sul, espreito as paredes desta pequena e alta cidade. Fica-me esta inscrição em pedra.

2 de janeiro de 2013

A vila, de seu nome «Entradas»




Quando se entra numa localidade desconhecida, de modo inesperado, mudam por completo as sensações, sendo irresistível imaginar o quotidiano das gentes. Na surpresa da diversidade, é agradável o enquadramento, o que não passa de súbito rasgo visionário. Cai-se de súbito na realidade, não se conseguindo ter a mínima noção da vivência diária nesta localidade bonita, cuidada, onde  limpeza,  brancura e sossego formam as primeiras impressões. Por aqui, o tempo parece ter parado.

Agonia
dos lentos inquietos 
 amarelos, 
 a solidão do vermelho 
sufocado, 
por fim o negro, 
fundo espesso, 
como no Alentejo 
o branco obstinado.

Eugénio de Andrade