27 de janeiro de 2013

Memórias de Mafra ou porque fomos felizes num local


Há terras onde fomos felizes. Um dos motivos, terá sido a descoberta de um jovem poeta. Capaz de criar imagens fortes com as palavras, este rapazinho começou, em gesto de provocação, a trazer para as aulas as folhas arrancadas à antologia, fingia-se não entender. O que interessava eram os textos literários em estudo, desde que as páginas coincidissem… Com o avançar do ano, o Horácio veio e revelar-se, tendo conquistado o prémio literário (modalidade poesia) que, então, foi criado na secundária. Com um nome assim, as expectativas quanto à sua escrita  eram de responsabilidade. Chegou, por essa altura, a decisão pessoal de entrar em período de tréguas com os livros daquele que viria a ser o nosso Nobel… É que, até à data, nada parecia conseguir ficar à altura de O Ano da Morte de Ricardo Reis. Constituiu experiência única a leitura do romance então recente – Baltasar e Blimunda ganhavam vida sempre que, num horário com inúmeros buracos entre tarefas e a incluir o sábado, se encontrava, sob as árvores, um banco convidativo, a escapar ao bulício da escola. Corriam pela vila  histórias exageradas pela imaginação popular: os ratos tomavam conta do espaço deslocando-se, em profusão, por caminhos subterrâneos que atravessavam o local… Na secretaria da secundária, os roedores apareciam, quase fossilizados, dentro de pastas de arquivo. O convento, na sua ostentação de oiro dos brasis, assenhoreava-se do espaço, excessivo no estilo arquitetónico. Chegou o dia ansiado – uma autorização especial para visitar a biblioteca do palácio, até então vedada ao público. Mesmo tratando-se de tempos diversos, a sensação de entrar num espaço proibido do saber conduziu à associação a outro grande título : O Nome da Rosa. Na imagem, um detalhe de outro compartimento do palácio, utensílio cuja finalidade conseguirão indicar.

4 comentários:

  1. Acho que também seria feliz em Mafra. Sempre tive essa sensação...
    Kiss.

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  2. Não acredito, és tu própria? Que os dias fiquem mais longos, para um briefing em Sintra.

    Outro motivo para se ser feliz em Mafra: as excelentes pastelarias (com as melhores parras do universo e arredores) :)

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