24 de setembro de 2009

PORTUGALIZAR

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Roger Vailland esteve três vezes em Portugal.
As duas primeiras em reportagem; a terceira como membro da Resistência à ocupação da França pelos exércitos de Hitler,
No seu livro “ A Lei”, Roger Vailland, a determindo passo do livro, inventa o verbo “portugalizar”.
Vailland fala de um país a naufragar, no qual os jornalistas não faziam jornais, os escritores não escreviam livros, os políticos não exerciam, um povo arrastava-se indolente, amorfo.
O livro é de 1957. Amiúde dizem-lhe que Roger Vailland é um autor datado. Ele diz “tá bem abelha” e continua a reler.
Datado ou não, digam-lhe lá ao ouvido, se a argúcia de Vailland, no desenhar do nosso retrato de “conformados”, que temos por hábito trazer agarrado à pele como sarna, não é tão dos dias que hoje correm?
É esta a citação:

“Entre 1904 e 1914, entre os seus vinte e trinta anos, viajara nas férias universitárias por toda a Europa a fim de rematar a educação, segundo o desejo do pai. Voltando certo Verão de Londres para em Valência embarcar rumo a Nápoles, demorou-se alguns dias em Portugal. Fizera a si mesmo mil perguntas sobre o declínio desta nação cujo Império se alargara a todo o globo. Conheceu escritores que não escreviam para ninguém; homens políticos que governavam para os ingleses; homens de negócios que liquidavam as feitorias do Brasil e viviam de rendas exíguas nas cidades da província, sem qualquer objectivo. Concluiu que a pior das desgraças era nascer português. Em Lisboa e pela primeira vez na vida travara encontro com um povo que se tinha desinteressado.”

1 comentário:

  1. Gosto muito do Vailland graças ao meu pai que gostava de o ler.
    Nunca concordei porém com essas teses sobre Portugal. Não aprecio teorias de miserabilismo.

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