Adília de seu nome escolhido por ser o da madrinha lá na
aldeia do sul de onde veio casada e com um rancho de filhos, para os subúrbios
da capital, à procura de sustento.
A casa escura, o pingo na torneira , alumínios a arear
enquanto os miúdos comem o caldo de hortaliças, ainda o sol não desapareceu, a
escola fica longe e o dia começa ainda escuro.
Roupa esfregada, cada sábado de manhã, no tanque do pátio ,
batas brancas obrigatórias na escola de finais de quarenta, cada filho só com
um destes tapa- misérias de cor branca – faz-se questão no asseio – a ter de estar
seco e engomado , cada segunda-feira.
Dia de aniversário (tinha-o esquecido), chega a inesperada oferta do seu homem, uma
Singer, nunca havia recebido, nem nos natais da infância, um embrulho que
fosse, nem de papel pardo e cordel. Na vizinhança desses tempos outras chaminés
havia, com bonecos de pasta de cartão, soldadinhos
de chumbo, dentro de cada sapato . O filho do presidente da junta chegou a
receber um boneco de corda que tocava tambor e acabou por paralisar no dia
seguinte, à custa de tanta azáfama de percussionista, com toda a criançada a
rodar o mecanismo.
A Singer ocupou lugares de honra a um canto da entrada estreita,
com direito a cobertura chita colorida, para não entrar o pó, almotolia ao lado, utilizada para contrariar
os danos de uma casa fria e húmida. Iria dedicar-se a fazer o vestuário das
vizinhas e contribuir com uma pequena abastança, a família passaria a vestir-se
melhor, com as artes de costura e os retalhos da retrosaria do bairro.
O que uma pessoa descobre... título de propriedade de uma máquina de costura!!!!
ResponderEliminarE custou uma fortuna!!!
Ao que parece a necessidade de costurar e lavar a roupa à Sexta para estar seca na Segunda voltou em força!! Qualquer dia ainda se vê gente a lavar nos ribeiros (na minha terra ainda se lava, mas tem sido cada vez menos gente)...
Não é que eu tenha nada contra isso (menos lavar roupa no ribeiro, devido aos detergentes que vão para a água que segue livremente e não é tratada); sou é contra os motivos que estão a obrigar as pessoas a regressar a estas "tradições". :s
Acredito que, na época, o montante fosse considerável... 20 anos mais tarde, ainda comprava um bolo por uma quantia que, agora, não encontra correspondência nesta moeda europeia (quem diz um bolo, diz um café):)
ResponderEliminarE a poluição preocupa-nos nestes tempos, pois no filme de 1938, dizia-se/cantava-se que o sabão deixava os peixes da cor da prata...
http://www.youtube.com/watch?v=clrmt-sb-P4
... o filme em que Beatriz Costa cantava este tema é de 39, não de 38, segundo acabei de verificar...
ResponderEliminarAdorei o texto...e o preço da máquina de costura!! Histórias antigas com muito valor...cada vez mais lembradas.
ResponderEliminarBeijo
Graça
Fantástico. Deliciosas memórias... Tenho a Singer da minha mãe cá em casa, a da minha avó (uma preciosidade não pela antiguidade, mas porque era uma das peças importantes da casa, onde as vizinhas iam costurar:-) continua na casa da aldeia.Quem me dera tê-la comigo, assim parte da minha infância e da minha família ficaria para sempre comigo.
ResponderEliminarObrigada e beijinho, Graça.
ResponderEliminarAs Singer fazem parte das memórias de muitos/as, AnaMar. O pequeno texto é um pouco ficcionado, mas não muito :)
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