17 de janeiro de 2011

surrealismo no vale pardieiro


este sábado regressei ao vale pardieiro.

já aqui escrevi algumas vezes sobre o vale pardieiro e, nomeadamente, sobre a minha admiração pelos antepassados dos seus actuais naturais.
a tenacidade que demonstraram ao rasgar o monte sobre o qual assentam as suas casas para fazer passar a corrente do rio ceira sem inundar as margens da curva apertadíssima que debrua a aldeia é sinónimo de um povo que sabe que consegue os seus objectivos se se unir.
estranhamente pouca gente que normalmente vai a fajão conhece o túnel do vale pardieiro e, talvez por isso, eu passe a vida a recomendar que o visitem.
no sábado à tarde regressei mais uma vez ao vale pardieiro para mostrar o tunel.
ao descer pelo lado oposto ao que normalmente desço, perguntei a uma pessoa que ali estava, qual o acesso, porque nunca tinha descido por aquele lado.
o bafo que veio com as perguntas sobre quem eu era, de onde vinha e ao que vinha deixaram-me um pouco atordoado, tal a quantidade de vapores etílicos que jorravam a cada frase.
mas lá se disponibilizou a descer connosco enquanto voltava a perguntar sobre e mim e, mesmo respondendo-lhe eu a tudo, insistia que eu não lhe dizia quem era.
se esse fosse um diálogo em lisboa eu teria mandado o senhor meter-se na sua vida. mas estando numa aldeia e sendo natural a curiosidade e os receios sobre estranhos, fui respondendo a todas as parguntas.
e lá fui dizendo de quem era filho, onde tinha casa, como me chamava, quantas vezes costumava ir a fajão, o que fazia.
tudo, literalmente tudo.
mas toda a informação parecia que não chegava ao cérebro do questionador, talvez obnubilado pelos vapores etílicos.
pelo meio ia-se queixando da junta de freguesia que nada fazia, que teve que 'abrir' a estrada para a sua casa (coisa que verificar ser mentira, porque foi 'aberta' pela câmara municipal), mais o caminho que descia para o vale que estava nos seus terrenos (coisa que também fui informado tratar-se de caminhos públicos).
tudo dito e explicado, com mais e mais perguntas sobre mim e, não obstante as respostas, a obnubilação cerebral não lhe permitir processar a informação, chega-se a hora e dizer adeus, ao que vem um estranho e inusitado convite para lanchar em sua casa, que recuso agradecido por ter à minha espera uma festa de aniversário em fajão, com porco assado no espeto,
mas prometi, logo que chegasse a fajão, fazer eco junto do presidente da junta, de todas as queixas e lamentos.
quando estava meia aldeia no passadiço a jantar o porco e o arroz de feijão, chegam dois militares da gnr com ar de quem tem um serviço sério para tratar e todos brincámos sobre a falta de licença para jantar na via pública...
eis senão quando o presidente da junta, pessoa pela qual pergutaram os militares da gnr, me chama e me pergunta se eu tinha ido naquela tarde ao vale pardieiro.
claro que tinha ido.
mas qual era o motivo que tinha feito dois militares da gnr andarem 50 quilómetros à procura de quem tinha ido naquela tarde ao vale pardieiro?
apenas que o tal senhor com quem tinha falado durante a tarde e me tinha confessado ser agente principal da psp, tinha telefonado para a gnr da pampilhosa da serra e dizer-e com medo de um casal que tinha andado a passear pelo vale pardieiro e deu todas as indicações que eu lhe tinha dado, mais o facto de achar que eu teria '40 e poucos anos' e que, só por si é demonstrativo do mal que o vinho pode fazer ao cérebro...
os militares da gnr, após falarem comigo, desculparam-se e pediram-me desculpa pelo incómodo e quando questionados sobre se queria juntar-se a todos e comer alguma coisa, responderam educadamente que tinham mais coisas que fazer.
eu pedi desculpa pelo incómodo e lamentei que um agente principal da psp, que tem todo o direito a beber todo o vinho que quiser nos períodos em que não está a trabalhar, tenha obrigado dois elementos da gnr da pampilhosa da serra a conduzirem 50 quilómetros por causa de alguém que, obviamente, naquele dia nao estava com todas as suas capacidades cerebrais a funcionar.
eu acharia normal que um qualquer casal com 90 anos a viver isoladamente numa aldeia se assuste por ver um estranho na sua terra... mas um polícia vai telefonar para a gnr ????? se tinha dúvidas e medos porque não mo disse directamente?
tal como alguém lhe perguntou à noite quando ele foi a fajão e se justificava que me tinha perguntado 30 vezes quem eu era e eu me tinha recusado a identificar (primeiro porque ninguém me pediu, segundo porque não o costumo fazer a pessoas em chinelos e a tresandar a vinho): se eu não tinha dito quem era, como é que ele sabia onde era a minha casa ou quantas vezes ia a fajão e mais todas as informações pessoais que passou para a gnr?
o que me preocupa nisto, é que gente desta anda armada legalmente...
e o que eu gostava, era que após o dito agente principal ter saído à noite de fajão, ninguém tivesse telefonado para a gnr para o fazer soprar no balão...
o que me chateia mesmo muito, é que não sei se tenho coragem de aconselhar mais alguma pessoa a visitar o vale pardieiro...

3 comentários:

  1. Boa noite.É constrangedor de facto.Por acaso terminou bem mas se corre mal ou se o fulano tem «mau vinho» já imaginou o que pode suceder a um simples caminhante.No outro dia ia lá a G.N.R.averiguar o "acidente com dois desconhecidos que provocaram um pacato cidadão,por acaso policia e foram por ele detidos sob ameaça de arma " Esteve com sorte amigo.

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  2. Desculpe, mas a história tem o seu quê de cómico.

    Mas de facto... se eu estivesse no seu lugar, acho que também ficaria relutante em voltar a recomendar tal passeio. E se da próxima vez ele, em vez de chamar a GNR, se lembra de se armar aos 'cowboys'?!?! Onde anda esta gente com a cabeça?!?!

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  3. Pois eu fiquei com vontade de lá ir...tenho andado por tantos vales, que mais um pardieiro , não me mete receio.
    (De notar que vou acompanhada e com um berbequim...e quanto ao hálito,levo pelo sim, pelo não, já comigo os 2 GNR, que pode ser que tragam o senhor para uma desintoxicação e sempre lhe poupa o trabalho de ter que os chamar... ;-)

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