14 de abril de 2009

Uma cidade, diversos olhares

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Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver

Sophia de Mello Breyner Andresen

4 comentários:

  1. Esta necessidade de verbalizar para melhor ver a paisagem através das palavras, como se o sentido da visão fosse infinitamente secundário: é Muito Interessante!

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  2. Pareceu-me que o texto tinha muito a ver com as imagens que, de ângulos próximos, apanharam a mesma paisagem (tanto o fotógrafo quanto o pintor) e, para além disso, admiro muito a "limpidez marítima" dos versos desta senhora:)

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  3. Quantas vezes já leu este poema de Sophia?
    Mas é sempre como se fosse a primeira vez. Um enorme prazer. Um rio que se atreve a ser mar e sempre aquela mão que encontra outra mão.
    "Decerto esta cidade é a mais bela cidade do mundo", como deixou escrito o louco do Luiuz Pacheco.

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  4. É uma escritora que sempre se revisita com um olhar renovado.

    Há cidades lindas e Lisboa será, certamente, uma das melhores, embora com "pouca vida" (opinião pessoal), o que tão privilegiado local não merece.

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