25 de Março de 1974
“É a medo que escrevo. A medo penso,
a medo sofro e empreendo e calo.
A medo peso os termos quando falo
A medo me renego, me convenço
A medo amo. A medo me pertenço.
A medo repouso no intervalo
de outros medos. A medo é que resvalo
o corpo escrutador, inquieto, tenso.
A medo durmo. A medo acordo. A medo
invento. A medo passo, a medo fico.
A medo meço o pobre, meço o rico.
A medo guardo confissão, segredo.
Dúvida, fé. A medo. A medo tudo.
Que já me querem cego, surdo, mudo”
José Cutileiro
Poema e ilustração retirados de “Da Resistência à Libertação”, publicado, em Abril de 1977, pela Secretaria de Estado da Comunicação Social. A fotografia não tem indicação de autor.
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