Quando a Praça do Chile era um entreposto de rendição de condutores e cobradores da CARRIS. além de autocarros ainda circulavam eléctricos, “A Parreirinha do Chile”, esquina da António Pereira Carrilho com a Praça do Chile, estava permanentemente cheia desses trabalhadores. Aí se comiam das melhores bifanas de Lisboa. Também filetes de bacalhau, sandes de torresmos. As muitas e muitas vezes que ali alinhou de penalty tinto em riste. A pequena loja tinha pipos de vinho ao alto,vindo directamente do produtor. Não havia mesas. Tem a quase certeza de que aquelas frigideiras, onde se fritavam as bifanas, nunca foram lavadas, respeitando, aliás os mandamentos das tascas de galegos no que às iscas diz respeito.Ainda não existiam nem hamburguers de vegetais, nem quirches, nem toda essas comidas, que agora existem de fazer bem à saúde, mas já os amigos, elas principalmente, se arrepiavam só de imaginar vê-lo a comer bifanas, com aquela molhanga de banha, um toquezinho de pimentão, a escorrer-lhe pelos dedos.Tem este gosto por coisas a atirar assim para o não sabe bem o quê, quase sórdidas. E, nestas andanças pró esquisito, não está só.António Lobo Antunes, que tem dinheiro mais que suficiente para comer todos os dias no “Gambrinus”, com a voz azul do Nat “King” Cole a fazer-se ouvir como música de fundo, prefere, no entanto, um tasco onde lhe servem ovos estrelados com salsichas e a empregada faz a conta na toalha de papel. É ele que o conta no “Terceiro Livro de Crónicas”:“E às quintas-feiras almoço nos Moinhos da Funcheira com o Zé Ribeiro, o Zé Francisco, o Vitorino. Os Moinhos da Funcheira são o subúrbio do subúrbio, depois da Venda Nova, da Brandoa, da Pontinha: toda a gente acha feia e eu acho lindo.Quando digo que almoço às quintas-feiras nos Moinhos da Funcheira digo que a empregada nos trata por “Meus queridos”, nos traz salsichas com ovos estrelados e nos sentimos indecentemente felizes. Soma-nos a conta na toalha.”Como ele o compreende…Mas a Praça do Chile deixou de ser um entreposto de rendição de condutores da CARRIS. Na "Parreirinha do Chile" a freguesia começou a escassear. O proprietário deu uma limpeza à casa, deixou de ter pipos ao alto, as bifanas, talvez porque a frigideira passou a ser lavada, já não têm aquele sabor e cheiro antigos.Não mais lá entrou.
E é assim a cidade.
ResponderEliminarO estabelecimento mais próximo desta aldeia (a aldeia não tem lojas) é o verdadeiro "drugstore", como o designamos cá por casa: café que liga a uma antiga taberna ligando esta, por sua vez, à mercearia.
O dono, de uma educação já sem época, escreve escorreitamente quadras bem humoradas que afixa na taberna.
Também apregoa aos "habitués" do tasco que os pêssegos que vende na porta do lado são da mesma qualidade dos servidos no banquete de casamento do rei D.Duarte com D. Isabel Herédia...
a frigideira da parreirinha era património na unesco: intocável !!!
ResponderEliminaraquele molho era sucessivamente adicionado e as bifanas acumuladas.
algumas vezes comentava com o meu irmão, quando lá passavamos, que na camada de baixo devia ainda haver uma ou duas bifanas que assistiram ao ciclone dos anos 40...
mas comi lá algumas....
Será que a ASAE confiscou a frigideira? É que não me parece a mesma e continua a não parecer lavada :-D
ResponderEliminarMas continuam a existir bifanas e vejo muita gente a comê-las de manhã bem cedo. Não se perdeu tudo.
ResponderEliminarLembra-se que foi mais "Cavaleiro Andante" que "Mundo de Aventuras", mas isso é uma outra história.
ResponderEliminarA ASAE confiscou a frigideira? Há que ver isso porque, como diz o Carlos, a frigideira é património da UNESCO. Mas a frigideira que ele vê na montra da Pereira Carrilho não lhe parece a mesma, mas não garante. De certeza certa tem que as bifanas já não são o que eram.Ele também já não é o que era mas o problema com o sabor das bifanas é que antigamente estavam sempre a sair, agora ficam ali a coser A espera de clientes e o sabor ressente-se desse pormenor. Que não é de somenos...
caro gin, nunca deixe de escrever esses "sitios por onde andou"... onde é que eu agora vou encontrar torresmos, que não me sai a agua da boca?...
ResponderEliminare sera que também andou pelas bifanas do rossio, ali mesmo em frente à estação dos comboios, na esquina? para mim a palavra bifana leva-me imediatamente a esse lugar que também deve ter uma frigideira "patrimonio da UNESCO"! ;)
Outro dia estive mesmo para tirar uma foto aos senhores a comerem as bifanas às sete da manhã. Mas inibi-me porque eles convidaram logo para partilhar o repasto:)
ResponderEliminarElementar, carissima J.
ResponderEliminarTrata-se do "Beira-Gare" que será protagonista de um dos próximos sítios por onde andou. As bifanas, juntamente com uma longa lista de outras coisas, fazem do parte do seu imaginário. A "Parreirinha do Chile" surgiu primeiro por uma quastão de proximidade.
Quanto às sandes de torresmos, tem umas no "Ribeirão Preto", no outro lado da Praça do Chile, na esquina para a Rua Morais Soares, frente à estação do metro. Também tem umas razoáveis bifanas, de que não gosta assim muito, porque lhe tiram a gordura e um bocadinho de gordura, mero gosto pessoal, é fundamental numa bifana.
Mas peça à T. para que, numa das próximas vezes que for à Loja numero 20, traga um pedaço de torresmos. Têm qualidade e, partidos fininho, com pão alentejano, fazem umas óptimas sandes.
Bom apetite
Muito bem observado... ;)
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