22 de agosto de 2007

A saga do 16

Apanho o 16, arranjo um lugar e tiro o livro. Mal li uma página e eu leio depressa, a senhora da frente toca-me na mão. "Desculpe, gostava de saber onde é a Igreja onde aceitam roupa para os pobres". Eu evento-lhe várias hipóteses e falo na que existe em S Domingues de Benfica onde recebem tudo o que queiramos oferecer para vender e assim obter fundos para ajudar quem precisa.
A senhora agarra-se ao blusão que traz no colo. E diz-me "Queria oferecer este blusão. É do meu filho". Pela expressão dela antevi o que ia acontecer. Fechei o livro, olhei-a e ouvi
"Ele morreu em Abril, só agora consigo mexer nas roupas dele". Falamos, ela conta-me o seu Alzheimer, coisa de pouco interesse segundo ela, do sozinha que se sente, do outro filho que mora em Paço de Arcos. Eu tento encaminhá-la para as instituições de apoio que existem na sua freguesia e que conheço razoavelmente. Conta-me da vizinha que lhe deixa o manjerico, quando vai de férias, para ela o regar e da alegria que isso lhe dá. Tem 84 anos. Lúcida e tão simpática.
Diz-me baixinho " Aquela senhora dali está a mandar-me um beijinho". E era mesmo verdade.
Saí duas paragens depois do que costumo e questionei-me se devia ir levá-la à loja. Antes de me despedir disse-lhe para se sentar ao pé da senhora do beijinho, para seguir acompanhada
Ela sorriu e disse" As pessoas são tão simpáticas comigo no autocarro e no metro. Sabe-me mesmo bem, fico menos sozinha"

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