24 de fevereiro de 2006

Um licor

Colocar isto a seguir a posts dedicados a José Afonso poderia parecer de mau gosto.
O que vale é que lá apareceu a Paris Hilton...

Para falar deste assunto
Só mesmo eu…
Uma sandes de presunto
Que ainda ninguém comeu
Serve-me de inspiração
Solta-me a imaginação.
De imediato
Chegou, de facto,
Uma imperial
Fresca, fresquinha
Que numa atitude normal
Não apareceu sozinha
Trazia o belo tremoço
Pelo que pedi ao moço
Que estava ao balcão
De bandeja na mão
Amendoins torrados
Cajús bem salgados
Tudo coisa saudável
De sabor agradável
Para sossegar a alma
Que o que é preciso é calma.
Despejei a primeira
Para dentro do bandulho
E olhei com orgulho
A caneca inteira
Que o empregado eficaz
Demonstrando ser capaz
Trazia feliz
Para debaixo do meu nariz.

A seguir a um arroto
Tirei da algibeira
Que tinha o fundo roto
Um euro ainda perdido
Fugido da carteira
E pedi outra cerveja.
Com cérebro meio dorido
Sem nada que se veja
Juntei mais dois martinis
E vi mulheres de bikinis
Todas gordas e feias
Baixas e horríveis
Vestidas só com meias
De cores impossíveis.
Lá me equilibrei
E num instante me abracei
A uma garrafa de gin
Que de mim estava a fim
E conversámos noite dentro
Junto a um pilar
Construído bem no centro
Para nele me apoiar.
Beijei-a vezes sem conta
Até ficar de cabeça tonta
E pedir em dois tempos
Um licor de coisa qualquer
Que o que se quer
E sem contratempos
É alagar as mágoas
Afogá-las nas águas.

Mas houve um licor
Pelo qual senti amor
Não consegui deixá-lo
E decidi amá-lo
Até que a morte nos separasse
Ou que a garrafa se esgotasse.
Com dor ou sem ela
Não consigo lembrar bem
Sentei-me à janela
Olhando quem vai e vem.
Ouvi gritos e gemidos
E cocei os ouvidos.
Ouvi vozes
Que pareciam nozes
Ao que me lembrei
Ao que ao bar me cheguei
E pedi um copo cheio
Com natas como recheio
De um orgasmo
E o moço... pasmo
Perguntou-me o que era
E falou-me da Vera
E eu disse-lhe: esquece!
E ele: Já não lhe apetece?

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