22 de maio de 2005

Festival Eurovisão da Canção 2005

Nutro há já muitos anos um interesse científico por este espectáculo. Nutro por este espectáculo um interesse científico há já muitos anos. As evidências empíricas mais sugestivas da edição deste ano são:

1ª Depois de ganhar o campeonato europeu de futeból, a Grécia ganha o campeonato europeu das canções.

2ª A Itália não participou e os outros quatro grandes países da Europa ficaram nos últimos lugares da classificação final: Alemanha em último lugar (não há razão para se chatearem muito, afinal eles têm o Papa, o que é que podem querer mais?), França em penúltimo (eh eh eh), Reino Unido em antepenúltimo (é bem feita por levarem uma imitação da Beyoncé e por terem re-re-eleito um tipo de esquerda que fez guerra contra um país inocente, o Iraque), Espanha em ante-antepenúltimo (é bem feita por levarem três espanholas a cantar em espanhól vestidas à espanhola e a comportarem-se como espanholas, esperemos que para a próxima compreendam um bocadinho melhor o que é o espírito internacionalista do festival e consigam ser um bocadinho mais multiétnicos).

3ª Dos 39 países que votaram, 19 (49%) deram a pontuação máxima a um país fronteiriço ou ao país mais próximo atravessando um mar. Também um grande número de países entregou a segunda maior pontuação a um país fronteiriço ou ao mais próximo através de mar.

4ª Para grande e feliz surpresa, as repúblicas outrora membros da Jugoslávia ofereceram-se mutuamente as pontuações mais elevadas: a Croácia deu pontuação máxima à Sérvia e Montenegro, depois à Macedónia e em terceiro lugar à Bósnia-Herzegovina; esta última ofereceu a pontuação máxima à Croácia, depois à Sérvia e Montenegro e em quarto lugar à Macedónia; a Eslovénia deu a pontuação mais elevada à Croácia; teria sido muito interessante registar as pontuações dadas pela Sérvia e Montenegro e pela Macedónia.

5ª Outro ponto de interesse são as pontuações cruzadas da Grécia, Chipre e Turquia. Chipre dá pontuação máxima à Grécia e vice-versa e Turquia dá pontuação máxima também à Grécia. Investigar e comparar com as pontuações oferecidas pela Grécia e por Chipre à Turquia.

Scandinavian Connections (esta expressão está registada por mim na S.P.A. para quando um dia eu dedicar-me ao cinema avantgarde subsidiado por um qualquer governo preocupado com a cultura e precisar de um título sugestivo): Islândia, Finlândia e Dinamarca dão pontuação máxima à Noruega e esta dá pontuação máxima à Dinamarca. Investigar e comparar com as pontuações oferecidas pela Suécia. Decompor a Scandinavian Connection neste efeito propriamente dito e no efeito da canção Norueguesa ter intrinsecamente uma tendência para uma boa classificação. Fazer testes relativos à questão da direcção da causalidade: aqueles três países escandinavos votaram na Noruega porque a canção deste país tinha tendência para uma boa classificação ou a canção tendeu a ficar bem classificada por causa das votações daqueles países?

7ª Eu votei na Hungria após maximizar uma função não-linear nos argumentos originalidade da música e simbiose entre tradição e modernidade. O facto de a cantora trazer lingerie preta foi devidamente ponderado.

8ª A canção portuguesa demonstrou uma inexplicável e indesculpável impreparação e inexperiência da equipa portuguesa. A canção revelou, prejudicando-se determinantemente, o erro de o seu método de selecção não se basear num concurso de interpretações: a canção foi insuficientemente testada e só na própria eliminatória deverá ter ficado claro para a equipa portuguesa que a canção não funcionava em palco: as frases segredadas, ainda por cima na língua semi-fechada que é o português, não produziram no público qualquer excitação ou entusiasmo. Por outro lado, os momentos de utilização esforçada da voz não se coadunaram com o ritmo rápido da canção: fazer um exercício de força em dois segundos resultou mal encaixado, metido a martelo, sendo óbvio que esses exercícios foram ali metidos por vontade daquela cantora amadora que de artista não tem nada e que confunde cantar com provas de endurance (ver os meus posts sobre o programa “Ídolos” de há uma data de tempo atrás). Ainda a registar as rimas paupérrimas e de temática gastadíssima (amar e mar, mar e amar, tou aqui tou a vomitar, etc.).

9ª O apresentador de televisão da Polónia parecia um político (do PCP).

10ª O cantor belga era português; das quatro cantoras suiças, uma era letã e as outras três eram italianas; a cantora filha de pai ber-ber (confirmar esta designação) e mãe andaluza e nascida em Israel representava um outro país qualquer (seria a Grécia?); ainda a registar um outro caso deste género (não me lembro dele porque não registei).

11ª Magnífico o desempenho dos moldavos: estilo, alegria, penteados apropriados, folclore misturado com rock e uma super-avozinha a tocar bombo e prato. Espero que quando eu tiver 106 anos também me convidem para tocar cavaquinho no Eurofestival.

Ainda de referir que, no final do espectáculo, Eládio Clímaco experimentou publicamente um clímax de contentamento por no próximo ano pagarem-lhe para ir à Grécia passear e locucionar a edição 2006 do Festival. Ser funcionário público do show business é muito porreiro.

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