22 de abril de 2005

Sobre a inconfidência

Vim tarde, mas vim. A inconfidência, antes de mais nada, visava libertar apenas as Minas Gerais, e não o Brasil. E tão somente porque as Minas não queriam pagar a derrama, que foi decretada porque o quinto real não chegava ao mínimo exigível de arrobas de ouro. Tiradentes era alferes, um posto do exército que hoje não existe mais, e portanto não podia ser o mártir barbudo que se vê - essa foi uma imagem inventada, para aproximá-lo de Cristo, feita numa das épocas em que o Brasil achou que carecia de heróis (inventaram também um Judas para ele, na pessoa de Silvério dos Reis, que foi um canalhinha apenas, não o canalhaço que dele fizeram; foram descobertos mais por suas imprudências que por qualquer delação). Sim, os inconfidentes foram tratados com absoluta brutalidade, mas nem todos: sujeitos houve que, tão implicados quanto o Tiradentes, puderam subornar autoridades e seguir a vida. O dístico deles, Libertas quae sera tamen, liberdade ainda que tardia, orna até hoje a bandeira de Minas Gerais. É duro para todos dizerem, mas o verdadeiro libertador do Brasil, indireto que seja, foi Napoleão: por culpa dele D. João VI veio, e o resto todos sabemos.

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