22 de abril de 2005

Escolhas várias

Este foi o post que me fez melhor em termos terapêuticos. A escrita pode ser um exorcismo.

À Z que morreu hoje.


Une fenêtre ouverte
La mort n'est jamais complète,
il y a toujours puisque je le dis
puisque je l'affirme
au bout du chagrin
une fenêtre ouverte
une fenêtre éclairée.
Il y a toujours un rêve qui veille,
désir à combler,
faim à satisfaire,
un cœur généreux
une main tendue
une main ouverte
des yeux attentifs
une vie, la vie à se partager.

Paul Eluard.

Que aquilo que não disse ou fiz, que tu saibas. De certa maneira sei que o vais saber.
Os teus filhos vão cumprir mais além de ti. Eles vão ser o teu prolongamento.
Como amante de informática e da net que eras, sei que compreendes este meu desabafo.
E aquilo que nunca soube transmitir.
Só consegui chorar agora. Que as lágrimas se transformem numa plataforma qualquer. Mereces tudo.
Que as pessoas minhas queridas que já morreram te acompanhem nesse destino desconhecido.A minha mãe, que tu conheceste, tomará conta de ti.
Não é justo morrer aos 40 anos.
Também nunca ninguém falou em justiça quando nascemos.
Do que te conheci....acho que acharias graça a ser revivida assim.
Abeijos e braços amiga alentejana Zé.
Por tudo...pelo Instituto..pelos putos... a associação de estudantes ..pelas conversas, pelo dito e pelo não dito.
Qualquer coisa que precises, por agora ainda estou aqui.
Depois lá nos encontraremos....onde quer que seja.
Com alegria.
Fevereiro de 2004/T


Tenho dois ou três posts ou até mais de que gosto muito:

Desculpa não saber o teu nome minha querida”


sei que vão dizer que os homens são todos iguais.
que as nossas paixões são tão 'grandes' e tão 'intensas' que passado algum tempo tudo o que nos fica é, ás vezes, com sorte, uma vaga ideia do nome...
podia fazer aqui um parentese culto para vos lembrar o conto 'the dead' (fica melhor ser citado em inglês, não fica?) do james joyce, para vos fazer notar que as marcas que alguém nos deixa não tem a ver com coisas tão facilmente mensuráveis... mas adiante.

adiante o tanas... ia lá deixar escapar a oportunidade de citar o joyce. aqui vai ela..:
His curious eyes rested long upon her face and on her hair: and, as he thought of what she must have been then, in that time of her first girlish beauty, a strange, friendly pity for her entered his soul. He did not like to say even to himself that her face was no longer beautiful, but he knew that it was no longer the face for which Michael Furey had braved death.

se isso é importante para vocês, acho que se chamava (espero que ainda se chame) helena.

teria eu uns 5 anos. ela outros tantos.
morava uns prédio um pouco mais abaixo de mim.
jurámos amor eterno e decidimos casar (apenas nos faltavam as luvas para ter tudo o que achavamos necessário para o efeito).
passeávamos de mãos dadas pelo parque
existe um foto, que a minha irmã expropriou, em que estou com ela de um lado e uma bola do outro (imagino que fossem os meus dois amores ao tempo). se conseguir obter a dita foto prometo postá-la. mesmo que a despropósito.
não vejo essa foto há mais de 20 anos... mas sei-a de cor (by heart, utilizando a expressão inglesa, para quando se refere, pelo menos.. a cantar sem ajuda de partituras..)
os dois sobre o lancil, os totós dela. a saia. um sorriso lindo. a minha t-shirt apertado no pescoço com um elástico (deviam usar-se assim ao tempo, no século 16) uma casaco de malha sobre a t-shirt. uns calções. uma especie de sandálias com meias.. lhac... a bola numa mão. ela do outro lado. linda :)
imensas vezes ao longo da minha vida tento imaginar o que fará essa senhora hoje.
onde vive. o que faz. do que gosta.
não tem a ver com paixões (como espero que calculem...), mas com a curiosidade de saber o que a vida fez distanciar duas pessoas que acharam tão perto aos 5 anos.
será que alguma vez mais nos cruzámos?
onde?
gostaremos de coisas opostas?
é o mais provável...
afinal gosto de coisas estranhas. e sou um tipos estranho
(digo eu, que digo coisas.)

Ideias para dias quentes de verão (3)
Viajar.
Ser viajante!
Gosto de viajar, ver novos lugares, olhar caras desconhecidas, comer comidas nunca antes comidas, falar línguas mal faladas, fazer coisas que antes nunca tinha feito...
Devia ser obrigatório viajar. Faz parte de um conceito que li num livro recentemente: as pessoas andam a correr de um lado para o outro para chegarem mais cedo ao ponto de partida, porque se esquecem que nunca se chega, está-se sempre a partir! O viajar dá-nos melhor esta noção, este contínuo partir. Devia ser obrigatório viajar, pelo menos para os funcionários públicos: não se podia entrar sem conhecer bem os hábitos e costumes de pelo menos cinco países. E Espanha não conta!
Viajar. Abre-nos a mente, ilumina-nos o espírito e engrandece-nos a alma. Quem nunca viajou nunca saberá o que poderia ter feito ou o que poderá vir a fazer, nunca conIhecerá alguns dos seus limites. Quanto mais viajo, mais quero viajar, mais coisas quero fazer.
Já andei por muitos lados: já calcorreei Lochs e Glenns da Escócia, já subi ao Empire State Building e deambulei pela Times Square, já bebi Schnnaps em Dezembro em Viena e tintos de verano em Agosto em Cádiz, já subi o Mississipi num barco de roda, já me maravilhei com o Alhambra de Granada e espreitei a Gioconda entre dúzias de japoneses...
Estas férias estive em Florença, na Toscânia. E gostei, gostei muito, fiz pequenas coisas extraordinárias. Passeei nas ruas de “Firenze”, vi os frescos de Filipino Lippi na Capela Brancacci, a Sagrada Família de Miguel Ângelo nos Uffizi e a Trindade de Masaccio em St. Maria Novella. Molhei os pés no Tirreno, subi à Torre Grossa de S. Gimignano e jantei no Il Campo de Siena. Ouvi cantos celestiais na capela de St. Margherita (onde Dante casou e conheceu Beatrice Portinari) e vi a ópera Turandot na Torre del Lago Puccini, perto de Lucca.
Estou um pouco melhor!
Mas quero muito mais: quero assistir ao Palio em Siena e correr à frente (ou atrás) dos touros no S. Firmin de Pamplona, quero atravessar os EUA de carro e ir à muralha da China gritar qualquer coisa em chinês, quero ver o sol da meia-noite em Narvik e ouvir o Muni a chamar os fiéis na Mesquita de Istambul...
Quero viajar!

PP: Por viajar não incluo ir oito dias para Varadero, comer muita melância, beber mais Baccardis e dar alguns mergulhos na piscina....bahhhhh!
Gasel, Agosto de 2003

REFLEXIVO

O que não escrevi, calou-me.
O que não fiz, partiu-me.
O que não senti, doeu-se.
O que não vivi, morreu-se.
O que adiei, adeus-se.

Affonso Romano de Sant'Anna

J., sobrinha de T.
escrito por joana às 19:41
Outubro de 2003

Coisas de puto
.
Sou novo, é verdade. Sou curioso também.
Quando crescer um pouco mais, vou arrepender-me de ter sido tão curioso sobre como é ser adulto.
Será divertido?
Tenho estas perguntas de miúdo. Não sei o quanto posso confiar em mim hoje.
O arrependimento, será um medo passageiro?

Enfim. Será divertido?
E justificável? Vale a pena a espera?
escrito por zoe às 12:05
Outubro de 2003

A premissa

Dizem que Deus escreve direito por linhas tortas. E eu digo: alguém que Lhe dê um caderno pautado.
escrito por Alexandre
Outubro de 2003


Cachaça, Gírias e Mortes
Teresinha de Jesus, muito grato pelas cervejas virtuais. Hei-de entornar uma em tua intenção. Se fosse cachaça, derrubava um tantinho no chão. Pro santo, como se diz, ou pra santa: Santa Teresa dos Descervejados. Mas a cachaça dá um calor danado. Misturada com vermute (os finos) ou com licor de alcachofras (os bárbaros), a cachaça rende um belo rabo-de-galo. Curitda por seis meses dentro de um coco, fica deliciosa. Misturada com sumo de limão ou de abacaxi, rende a caipirinha. E pura rende porres tremendos, geralmente tristíssimos: o encachaçado é mestre em lamuriar-se, e chamar a qualquer poste elétrico de amigão.

Paulo Coelho é mestre no que o Lobato chamava de "livro pau": lê-lo é como levar uma paulada na cabeça, adormece-se instantaneamente. Prozac em letrinhas.

Gasel, se você quer exemplos de rebuscamento daqueles que nem o João de Barros seria capaz, precisa ler os despachos dos delegados de polícia daqui. O diabo é que eles vêm a mim e dizem: Orlandão, você que é professor, veja aí se está tudo certinho. E toco eu a ler tijolos verbais do quilate de "indigitado", "como sói acontecer", "via de regra", "outrossim", "eis que" (fumaças bíblicas), "o ora requerente", "consubstanciado", "propedeuta", "o nobre causídico", "dar azo", "supedâneo" e outras tais. Isso quando não vêm de dura lex...

Pois borregar, então, é balir? Aqui o meu dicionário Houaiss traz a conjugação, mas, esquisitamente, não dá a acepção. Certamente porque é eletrônico e pirata. E SPC, aqui, é o temidíssimo Serviço de Proteção ao Crédito: entrar na lista negra dele é ficar impedido de comprar qualquer coisa no crediário; é ter o chamado "nome sujo". E dar à sola é certamente o mesmo que dar às de Vila Diogo (eu tenho o poeminha em algum canto), o que chamamos de se mandar, picar a mula ou simplesmente vazar, isto é, fugir? Já vês que o idioma é quase o mesmo... :)

E Ni, você não é a primeira que elogia o Peixoto. Preciso dar um jeito de o ler, sei lá como.

A respeito de mortos, morreu aqui o Roberto Marinho. É como se, na Inglaterra, morresse o Rupert Murdoch; ou como se fôssemos americanos dos anos 40 e morresse o Randolph Hearst; ou como se fôssemos italianos e morresse o Berlusconi (supondo que Berlusconi não fosse chefe de estado). Era o fundador e o dono da Globo. Tinha 98 anos e ainda mandava. Agora, claro, vai dar um jeito de se meter na gestão do undiscovered country de que falava o Hamlet.
escrito por Orlando às 04:00
Agosto de 2003


Post clínico a falar do tempo

Uma das vantagens de ter esfriado é que não está calor. Ok, concordo que esta entrada soa a algo que poderia ter sido dito pela astróloga Maya, mas invoco bons motivos para ela. Existem várias vantagens, incluindo não ter de me preocupar com os meus velhinhos desidratados e com as tensões nas botas, e conseguir em pensar em qualquer coisa menos obsessiva que água e líquidos diversos por dentro e por cima. A água é por cima. Os outros líquidos é por dentro. A água às vezes também é por dentro, que convém manter as aparências.

O vento, contudo, não facilita. Há poeira a rodos no ar, bem como uma razoável carga de pólen, ainda que este esteja já em fase descendente. À conta destes pequenos pormenores metade de Lisboa está a tossir e a outra metade já teve tosse ou vai começar hoje. E vão todos, rigorosamente todos, à minha consulta.

O Euro 2004 é hoje história. O meu querido colega de ofício refere que, terminada a bola, voltámos ao Prozac e Xanax. Dou-lhe alguma razão, com uma ressalva: alguns dos piores episódios depressivos dos últimos tempos apareceram-me nos dias imediatamente a seguir às vitórias portuguesas. Isto não é de surpreender, mas mói um bocado. Nada como uma alegria colectiva para que as estruturas mentais mais fragilizadas se vão abaixo.

E o Natal vem aí, no comboio descendente.
ABS,
Julho de 2004

E pelo divertido que foi:

Pilosidades e outras ventosidades

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Alexandre Dez 2003

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