8 de abril de 2014

Basta-nos um dia de sol


É isto a vida, a sobrar do microcosmos individual. Um dia de sol, momento para pensar como tudo passa: políticas, descontentamentos, a água dos dias escuros a cair, farta, ao longo dos meses. É isto a vida, ecos de pensamentos, de sensações, lembrando que , apesar da injustiça, das agruras do quotidiano, dos sapatos que apertam, de alguma troca de palavras amarga, dos dislates proferidos em espaços (mais ou menos) públicos, da confusão à porta do centro de emprego, da manipulação das estatísticas, o inverno dá lugar ao sol, sem metáforas ou sentidos escusos. Inverno agreste, a fazer germinar as primeiras papoilas que, de manhã, se destacam nas margens do asfalto. É isto a vida, memória teimosa, a vingar, pequenina, e a crescer, a germinar num dia a anunciar o verão . Percorro, de modo displicente, o livro de Hubert Reeves, Um pouco mais de azul. Na abertura, a frase: “este livro é dedicado a todas as pessoas maravilhadas com o mundo”… e salto para a referência à passagem de átomos a moléculas, de estrelas a galáxias, de enxames a superenxames … Num ápice, a ilusão breve de conseguir abarcar a dimensão do universo (tudo passa, tudo permanece, para lá dos nossos sentidos, tudo é poeira de estrelas que cintilam)

Imagem: NASA- a nebulosa de Hélix, a 650 anos-luz da constelação de Aquário.

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