8 de dezembro de 2013

Dezembro é o mais cruel dos meses *


“Dezembro é o mais cruel dos meses”, ouso afirmar, subvertendo os versos de abertura do fantástico poema The Waste Land. A claridade de cada manhã de sol no presente mês, ilude sempre que, quase sem gradações, cai a opacidade da noite. Tomando a luz enquanto metáfora do conhecimento (tarefa inglória por em construção permanente se encontrar o mesmo ao longo da/s vida/s) fico a pensar que conhecer , no limitado entendimento pessoal, não será o enciclopedismo iluminista (embora a corrente o possa, em parte, explicar). Observando cada dia que, num ápice, se extingue, valorizo o momento, como o ritual das gaivotas , junto à praia, pousadas no telhado da capela, nos minutos a anteceder um ensaio de cânticos natalícios. A terminar a leitura de A sombra do vento, romance desenrolado numa Barcelona do pós guerra, passo, por diversas vezes, pela referência à basílica de Santa Maria do Mar, na sua grandeza gótica. Admiradora assumida de todo um imaginário que , ao longo dos tempos, fui associando à Idade Média, viajo na velocidade do tempo e olho, por momentos, a branca capela de Santa Marta , também ela fronteira ao espelho marítimo e, fascinada pelas gaivotas que compõem o cenário cortado por um trago fresco de maresia, retenho a nitidez da imagem esquecendo, num instantâneo, o repentino cair da noite que, momentos depois, irá acontecer.

* adaptação livre do verso de abertura do poema The Waste Land de T.S. Eliot

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