Athos Bulcão e Oscar Niemeyer |
Lá por volta de 1961/62, o Brasil
experimentou um curto período de parlamentarismo. Nessa época, Oscar Niemeyer, o arquiteto que deu
origem física ao sonho de Juscelino Kubitschek, foi chamado às pressas para
construir mais um bloco de salas, colado ao prédio principal do Congresso
Nacional, área que hoje abriga a presidência da casa.
A obra era necessária para acolher as
representações dos partidos políticos. O limite do prédio original terminava na
parede oposta ao Salão Verde, área de circulação comum, em frente à entrada do
plenário da Câmara dos Deputados. Projeto feito, a parede derrubada deu lugar a
um fosso de luz e um jardim.
Athos Bulcão |
Para cobrir a parede do novo bloco foi
convocado, também às pressas, o artista
plástico Athos Bulcão, carioca que adotou Brasília e era considerado
um “compositor de espaços”. Por onde se anda, em Brasília, há a presença do
forte traço dele, seja nos cubos do teatro Nacional ou nos azulejos dos imensos
painéis com desenhos peculiares.
Athos fez o projeto do novo painel. Os azulejos foram produzidos e entregues para a colocação. O engenheiro responsável pela
obra cobrou um diagrama de montagem. Não havia. A solução foi voltar
a falar com ao artista, mas Athos estava na Europa. E o prazo de entrega da obra, perto do fim. Num tempo em que não havia internet ou a facilidade dos
telefones celulares, as comunicações se davam de forma mais complexa e
demorada. Foram necessários três dias até localizá-lo.
Painel com as pombas de Athos Bulcão |
Cobrado, ele responde: Não há diagrama.
Perplexo, do outro lado da linha, a milhas e milhas de distância, o engenheiro perguntou como fazer para montar
a peça. Athos não teve dúvidas: Pergunte aos seus operários quais entre eles
não sabem ler e entregue a estes a tarefa de montar o painel. Além disso deu
uma única orientação: Monte de tal forma que nenhum azulejo repita o modelo anterior.
Ventania, painel no Salão verde da Câmara dos Deputados. |
Detalhe do painel Ventania. |
O resultado é uma
obra que se chama “Ventania”, que dá
vida e luz ao Salão Verde do Congresso Nacional Brasileiro. Feita por um
artista excepcional e montado por operários iletrados, mas cheios de sensibilidade.
Esta história é uma delícia. Por fazer parte do acervo da construção de Brasília. Por ser uma obra de arte feita com inteligência e sensibilidade, do autor e de quem executou. Uma sinfonia, com maestro e instrumentistas, onde só se sabe o final depois de pronto. Lindo de ver e de saber.
ResponderEliminarLinda a história. Obrigada Maranhão:)
ResponderEliminarPor nada Teresa. Aos poucos, vou revelando aspectos da história desse Brasil que nos liga.
ResponderEliminarO painel é lindo, aliás, como todo o trabalho do Athos Bulcão, sou fã deste artista e me sinto feliz em conviver com sua obra diariamente. A crônica revela muito da história da cidade que nos acolhe. Linda!
ResponderEliminarO painel é lindo, aliás, como todo o trabalho do Athos Bulcão, sou fã deste artista e me sinto feliz em conviver com sua obra diariamente. A crônica revela muito da história da cidade que nos acolhe. Linda!
ResponderEliminarMaravilhoso post.
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