9 de agosto de 2013
Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013)
Recordo-o dos corredores da Faculdade de Letras nos idos 70. Um dia, comprou-nos um bilhete para assistir à peça do então recente grupo de teatro da FLUL e ficámos orgulhosos com a atenção demonstrada. Nunca foi meu professor, mas aparentava uma afabilidade no sorriso com que nos brindava, sempre que nos cruzávamos nos corredores. Numa bela tarde de sol, decidi faltar a uma aula, coisa penosa. Sentei-me cá fora, nos degraus, a ler um livro que então me fazia estabelecer como prioridade aquela mesma leitura. Vi que, ao transpor a porta do grande edifício, me observava com o mesmo sorriso de sempre, surpreendendo-me por ali, a devorar páginas. Pensei que, mesmo não sendo sua aluna, me tinha apanhado em falta. No entanto, o ar suave matou de imediato o remorso de ‘gazeteira’.
"– E que sentido tem a nossa vida?, que responsabilidade não será amanhã a nossa se ficarmos quietinhos a assistir ao descalabro, nesta grande prisão de gente bem comportada, que é, ao mesmo tempo, o palco de uma peça de Ionesco, onde se tomam a sério as maiores imbecilidades e o bem se confunde a todo o momento com a injustiça, com a hipocrisia?!" – Urbano Tavares Rodrigues, Terra Ocupada
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