Dia de calor. No metro as pessoas parecem cansadas e como que amodorradas. Uma velha senhora, muito curvada e débil, percorre a carruagem pedindo esmola, abençoando os benévolos dadores com voz suave. Surge uma cega no mesmo corredor, pedindo ela também esmola, sem grande sucesso, aliás.
Encontram-se as duas na extremidade da carruagem e ouvimos surpresos a voz da simpática velhinha crescer de tom, irada, dizendo " esta carruagem é minha. Faz favor de se pôr lá para fora. Este metro é meu!". A cega dá corda aos sapatos e desaparece rapidamente na próxima estação. Nós, os ouvintes e vedores da vida alheia, sorrimos e continuamos a viagem, entre calor e sono.
Eu campónia, chegada do interior à cidade grande, fiquei muito chocada com os pedintes. Eu sabia que eles existiam, mas não sabia que eram tantos e que conseguiam hocar tanto. Fui dando esmolas conforme podia (estudante não é rico, não é mesmo?!?). té ao dia em que vi dois cegs aos berros, quase a matarem-se pela propriedade da estação de metro do jardim Zoológico. Eles não têm culpa de serem cegos, mas nós não precisamos de ver espetáculos degradantes da parte deles...
ResponderEliminarT, texto muito bem escrito,com muita subtileza na análise da questão, transmitindo-nos o aroma muito próprio do quotidiano lisboeta.
ResponderEliminarApetece-me provocar e colocar aqui alguma ironia e dizer que a situação retrata a 'agressividade dos mercados'; ou 'a auto-regulação dos mercados'! :)