22 de maio de 2013
Uma conversa com Clarice
«Que ninguém se engane: só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.» - Clarice Lispector
Guarda-se, com avidez, um JL antigo, no qual o autor da peça confessa ter ficado impressionado com esta mulher. Entende-se a causa de modo nítido, após visita à exposição. Clarice e a vontade de a tratar com proximidade, talvez o olhar inquisidor, a aparente insegurança, a transparência confessional das palavras. Da visita, sai a curiosidade aguçada. Em grande ecrã, a entrevista em que só vemos a autora e o inseparável cigarro. Um compartimento encontra-se preenchido de gavetas. Algumas abrem-se ao visitante, mostrando retalhos de um quotidiano. Presente na memória, a carta do filho Paulo, ainda criança, a opinar sobre a capa para a chuva, demasiado comprida, o que o torna – nas suas palavras infantis – demasiado chic. Retalhos de uma vida. Sobre esta ucraniana acidental que tanto amou a Língua Portuguesa, são fundamentais os pedacinhos de ternura, acessíveis ao olhar da visitante. Há autores sobre os quais são dispensáveis as intimidades biográficas. Quanto às diversas citações sobre «escrever sem palavras», revestem-se as mesmas de sentido, o palavreado excessivo cansa quem o utiliza e, mais ainda, os destinatários. Síntese é arte ao alcance de poucos. Clarice consegue-o com mestria.
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