3 de novembro de 2012
Os 10 títulos de mais difícil leitura
(imagem: Stefano Bianchetti/Corbis)
O The Guardian de hoje publica uma rubrica intitulada «os 10 títulos de mais difícil leitura». Desconhecendo-se os procedimentos que terão conduzido à conclusão, o artigo, em tom bem humorado, felicita os leitores que conseguiram concluir as obras apresentadas. Do conjunto, fazem parte alguns autores contemporâneos, alguns (ainda) não traduzidos em português, sendo outros considerados clássicos do ensaio e da ficção. Por ordem de apresentação, a listagem é a seguinte:
1- Will Self, Umbrella
2- Walter Abish, Alphabetical Africa
3- Baruch Espinoza, Ética
4- Kazuo Ishiguro, Os Inconsolados
5- Robert Musil, O Homem sem Qualidades
6- Karl Marx, O Capital
7- Malcolm Lowry, Debaixo do Vulcão
8- James Joyce, Finnegans Wake
9- Thomas Pynchon, Arco-íris da Gravidade
10- B.S. Johnson, The Unfortunates
A ilustrar o tom do artigo, transcreve-se a observação associada à escrita ficcional de Robert Musil «obra em três volumes e de difícil leitura, apresenta-nos um protagonista em busca de um sentido para a realidade, a personagem revela uma atitude ambivalente , oscilando entre moral e indiferença, o que a reduz ao estado de “homem sem qualidades”». O autor da peça jornalística conclui a apreciação a este extenso texto, referindo que «para alguns leitores, Musil teve a faculdade de fazer com que Proust acabasse por ficar equiparado a Agatha Christie».
Fonte: The Guardian/The Observer (adaptação)
Estimada editora,
ResponderEliminarda meia dúzia que conheço, parece-me que que são leituras impróprias em versão traduzida se a intenção for ler o autor.
O Finnegans Wake é intradutível
embora haja edições em várias línguas que eu diria serem mais divagações à volta do escrito do Joyce
mas!
mesmo assim, é desafio e dá vontade de esgotar metodicamente a lista, só para ver se é 'assim' como diz o jornal.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCaro pirata-vermelho,
ResponderEliminarQuanto aos títulos indicados pelo jornal britânico, é óbvio que o título do romance de Joyce é intraduzível e que só os livros 1,2 e 10 ainda se não encontram publicados por editoras nacionais, dado os autores serem contemporâneos, mal estaria a cultura nacional (ou ainda pior, digo eu)se a obra do famoso irlandês se não encontrasse traduzida no nosso idioma.
Cara Teresa
ResponderEliminarnão é o título que é intraduizivel
-a ter a liberdade eu diria assim mas cheira ao galicismo maldito no Império- é todo o texto do Finnegans Wake.
Vá lá ver...
Proust equiparada a Agatha Christie?!? Quase que dá vontade de ler para ver se é verdade. :D :D :D
ResponderEliminarMas nem me tento... Irrito-me quando começo a ler um livro que depois "emperra". E se já emperrei no "Ulisses", que toda a gente diz que já leu sem "grandes dificuldades" (honestamente duvido que seja assim tão fácil) nem quero saber o que poderia acontecer com os livros desta lisa... :S
Comparar Proust a Agatha Christie é humor britânico no seu melhor, Luísa, até ficava bem nos Monty Python =D
ResponderEliminarQuanto a dizer-se que ler o 'Ulisses' é tarefa fácil (o mesmo se aplica a Finnegans Wake) é a arte da mentira, mas ele há gente para tudo :o)
Concluindo: o artigo para mim foi interessante (aqui só transcrito em parte), pelo tom bem humorado que o atravessa.
teresa e luisa,
ResponderEliminaro ulisses, não sendo fácil, acho que parece mais difícil do que é, e tem uma 'aura' que ajuda à coisa.
tem, de facto, um capítulo de difícil leitura (0 3º) porque o joyce mistura a descrição do passeio de stephen dedalus pela praia misturado com o que o autor quer escrever (de um modo brilhando, digo eu) a forma anárquica com os nossos pensamentos se misturam: do que queremos realmente pensar e do que a nossa visão ou a reacção ao tacto leva a sobrepor àquilo em que o cérebro estava ocupado.
de resto é uma história simples: o amor por uma cidade e um dia na vida dessa cidade vivida por uma série de personagens menores dela.
tem o encanto adicional de praticamente todos os capítulos estarem escritos num estilo literário diferente, o que faz com que quase se possa ler um capítulo como se de um pequeno conto se tratasse.
a 'suposta' dificuldade' pode estar nessa diferença de estilos que faz com que tenhaos que nos adaptar a um 'novo' livro a cada capítulo.
sou suspeito a falar do ulisses, porque é talvez o livro que mais gozo me deu a ler e seguramente aquele que passei mais horas a ler (as duas traduções para português e umas partes do original, que reconheço o meu inglês não ser suficiente para me dar o gozo que só uma leitura 'escorreita' dá).
quanto ao finnegans wake, mesmo sabendo existir uma tradução estupidamente cara no brasil, e uns capítulos avulsos traduzidos, apenas li, pelos anos 70, uma tradução para o italiano feita pelo próprio joyce e publicada pela extinta revista francesa 'tel quel'.
quanto a 'facilidades', ali não se espere nenhuma... pelo menos para mim.
Pois é isso mesmo, não há nada de fácil nesta obra. Um dos méritos técnicos e criativos de Ulisses? Ter feito de Joyce o precursor na utilização do monólogo interior, uma modalidade seguida por outros escritores, tantos, mas ficam os nomes de Virginia Woolf, William Faulkner, o 'nosso' Almeida Faria. A ideia de ler isoladamente capítulos como narrativas mais curtas é interessante. Perdi (as mudanças dão nisto) uma edição antiga e tenho, atualmente, a da Difel... Ah, e também influenciou Musil na escrita, outro dos incluídos nesta lista dos 10 difíceis.
ResponderEliminaro almeida faria é TÃO injustamente esquecido... tão moderno!!
ResponderEliminarquanto ao ulisses, a tradução da difel é a do antonio houaiss, que foi uma das primeiras traduções feitas no mundo do ulisses.
a dos livros do brasil, do joão palma-ferreira, é quase o trabalho da vida do tradutor. mais de 7 anos quase exclusivamente a traduzir. tem excelentes notas e gosto bastante mais do que a versão do houaiss.
mas aconselho-te mesmo a pegares num dos capítulos e leres como se um pequena obra se trate...
vou ver se descubro um documentário que, julgo, a bbc fez sobre o livro que é excelente para ajudar a ler a obra.
Caro Carlos,
ResponderEliminardesculpe se apanho o comboio da outra conversa mas a inforemação
de que o Joyce traduziu o FWake para italiano é impostantíssima
(para mim, pelo menos...) nãosóporque contoinuo a pensar que não é possivel a integral passagem para outra fala como porque, uam de duas,
.ou o Joyce teria sido inteiramente bilingue
.ou, vamos parar ao inverso do problema proposto - a traduzibilidade.
Não tendo todavia o arrojo de negar a pertinência da decisão de traduzir, por parte de editores em vários países, proporia a ideia de formas distintas de texto, com o título FWake mas que nada terão que ver com a experiência resultante da realização original do sr James Joyce, um refinado alucinado que se deve ter divertido imenso à 'nossa' custa.
Mal comparado e à guiza de puro dislate de provocação -salvaguardads diferenças e dimensões de imponência do/a escrito/a- lembra o grande FPessoa.
... ou o que fizeram dele(s)!
ResponderEliminarObrigada pela intenção de procurares o documentário, fiquei curiosa (se não der muito trabalho, claro) .
ResponderEliminar... e sobre a questão da tradução de Finnegans Wake, uma dissertação encontrada aqui
ResponderEliminarteresa,
ResponderEliminaro documentário, integrado numa séria mais vasta dedicada 10 grandes livros, está aqui:
http://www.youtube.com/watch?v=10uijZKnc-Y&feature=related
este é o primeiro de 9 videos que completam o programa e que encontras todos junto a este.
a qualidade do primeiro é má, mas as dos outros melhora substancialmente.
pirata,
ResponderEliminaro texto do joyce apareceu na tel quel, uma revista francesa que teve uma importância enorme na primeira metade dos anos 70 (principalmente entre a 'ruptura' com o pcf em 71 e a 'ruptura' com o rumo chinês em 76.
o naipe de colaboradores era notavel.
podes dar aqui uma espreitadela:
http://en.wikipedia.org/wiki/Tel_Quel
o texto que apareceu na tel quel era a tradução de uma parte do finnegans wake, anna livia plurabella e que aqui podes ver em 'formato' comparativo:
http://www.robotwisdom.com/jaj/fwake/alpitalian.html
e também ouvir o joyce ler o mesmo trecho:
http://www.youtube.com/watch?v=k1FcSGDgU8Q
ah, Carlos... eu não cehguei tão longe (capítulo 3) na leitura. Não sei... "emperrei". Mas outros livros houve que me irritaram da primeira vez e que depois adorei. assim, só tenho que esperar por nova oportunidade e voltar a pegar nele.
ResponderEliminarQuando eu digo que não acredito na facilidade com que as pessoas lêm, refiro-me ao tom com que falam. Quase como o autor do texto mencionado pela teresa, quase que dizem que ler "Ulisses" é o mesmo que ler banda desenhada do "Cebolinha" (pois há banda desenhada bem mais complexa que esta). Mas se calhar são daqueles pseud-intelectuias que leram as palavras todas do livros, mas não lhe tiraram nenhum sentido.
Quanto ao humor do texto, Teresa, nada a apontar. Simplesmente delicioso. É que só alguém com um humor especial poderia fazer uma comparação destas. :D
Obrigada, carlos, irei visionar com tempo, pois interessa-me a literatura daqueles lados, principalmente Joyce :)
ResponderEliminarÉ isso mesmo, Luísa, se não soubesse a fonte, concluía que o artigo só podia ter partido de um britânico:)
ResponderEliminarGrande Carlos!
ResponderEliminarMuit'obrigado, muit'obrigado.
é para isso que cá estamos :)
ResponderEliminar