9 de outubro de 2012

O poder de picar

Estava pacatamente à espera do 720, a pensar em nada e eis que se senta a meu lado uma senhora cheia de sacos. Depois de os ajeitar, revirar-se, remirar-se e compor-se, salta com donaire para a rua e diz: "Um parafuso! " E de facto era um, pequeno e reluzente perdido no meio do asfalto. Reverentemente apanhou-o e acariciou-o.  "Vê a senhora, um parafuso mesmo bom. Vou levá-lo". Eu concordo e ela entusiasma-se" E além de tudo um parafuso serve para picar, vê? Ou então para  picar uns rabos, bem precisam". Eu sorrio da apologia do picanço e levanto-me porque o autocarro chega. " Estava só a brincar, a senhora não se aborreça, mas este parafuso vai servir  mesmo para picar. Parede ou rabo". Vou-me a pensar,de mim para mim que os lisboetas andam um tanto ou quanto a surrealizar. Mas à cautela, quando encontrar um parafuso no chão, vou recolhê-lo. Nunca se sabe.


4 comentários:

  1. T devem-se devolver os parafusos, podem fazer falta a quem os perdeu. :)

    ResponderEliminar
  2. Surrealizar é realmente o conceito :)

    ResponderEliminar
  3. Quando comecei a ler, pensei que a senhora estivesse preocupada com o parafuso no meio da rua por poder estragar um pneu. Depois ri-me.
    Mas se eu lhe resumir uma história com pregos e parafusos que me veio à cabeça enquanto lia o seu post... Eu acho que a T ia pedir o parafuso emprestado para picar alguns rabos...

    Numa partilha de bens (muito poucos) entre filhas do mesmo pai, mas mães diferentes (a primeira mulher faleceu), uma irmã das mais velhas (com idade de ser mãe da meia irmã)disse que faltava dar à relação de bens um motosserra, pregos e parafusos. Juro que é verdade e que a história ainda não tem um ano!!!

    Se calhar a tal senhora nem estava a surrealizar assim tanto...

    ResponderEliminar