19 de outubro de 2012

Manuel António Pina: A poesia vai acabar...

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Deixou-nos o poeta, o cronista, a voz inequívoca num universo tantas vezes marcado pelo marasmo . Fazem falta vozes como a do poeta, a lembrar que não teremos de ser assim … indiferenciados. Há notícias que nos apanham de surpresa, nem sempre pelos melhores motivos. Esperava que Manuel António Pina ainda tivesse tanto a dar-nos, sobretudo (egoísmo pessoal) em tempos de desencanto.

 A poesia vai acabar,
 os poetas vão ser colocados em lugares mais úteis.
 Por exemplo, observadores de pássaros
 (enquanto os pássaros não
 acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
 entrar numa repartição pública.
 Um senhor míope atendia devagar
 ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
 poeta por este senhor?» E a pergunta
 afligiu-me tanto por dentro e por fora
 da cabeça que tive que voltar a ler
 toda a poesia desde o princípio do mundo.
 Uma pergunta numa cabeça.
 — Como uma coroa de espinhos:
 estão todos a ver onde o autor quer chegar? 

 Manuel António Pina

6 comentários:

  1. Se há perdas irreparáveis, esta é uma delas. Ficamos mais pobres e mais tristes

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  2. Sem dúvida, carlos, este escritor faz falta a muitos de nós.

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  3. Gosto da sua elegia simples e lamento consigo - foi um grande homem.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Quando de manhã dava uma primeira olhadela pelos jornais começava sempre pelas crónicas que Manuel António Pina publicava no JN. Vai-me fazer falta. Não temos muitos a reflectir sobre a nossa realidade como ele.

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