"Saído de Cacilhas ainda com luz de dia o barco vem singrando, lentamente, para a outra margem do rio. Gritam gaivotas no céu nublado, passam majestosas as fragatas de velas brancas, de velas vermelhas e as pequenas embarcações empenachadas de fumo deslizam rápidas, fugidias, até se perderem na bruma leve dos longes crepusculares. Cerra-se a noite quando o navio se aproxima da lombada alvacenta da cidade. As águas tingem-se de tons metálicos. As luzes acendem-se às fileiras, ao longo dos cais ou no «corte alto das colinas, como uma guarnição de arraial. Esmeralda, encolhida no banco da camioneta, olha para o clarão das luzes da cidade, olha para as estrelinhas amareladas que cintilam aqui e além, e diz consigo: "Será festa..." De quando em quando um movimento do barco ou o vulto negro de um navio barram o seu campo visual, mal aberto entre os carros que se aglomeram no ferry-boat. Então só lobriga a mancha do casario, a esfumar-se, nas alturas, entre o clarão do crepúsculo. Um balanço largo, monótono, de embalo, agita o navio. Ela tem medo. Sente a insegurança do piso, sente o perigo, e olha em redor, instintivamente, à procura de apoio. Vê caras tranquilas, uns que dormitam, outros que admiram o panorama."
Maria Archer, "Ela é apenas mulher".
E quem a terá desenhado?
Ofereceste-me um livro de contos desta autora, gostei muito e já deixei por aqui um post sobre o dito livro:)
ResponderEliminarEste é o "Ela é apenas Mulher":)
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