26 de junho de 2012
Sintra, S. Pedro e as alcachofras
(foto: blogue incognitanodeserto)
Tendo mudado da cidade para o campo, hoje região suburbana descaracterizada, a infância e a primeira juventude foram épocas em que os santos populares se passaram a revestir de características próprias: a fogueira que se acendia do lado de fora do portão – a rua era então em terra batida, povoada por bicicletas de criança, carros de rolamentos e saloias que, em vestuário simples de mulheres do campo chegavam, de burro, para vender fruta e hortaliças da sua lavra. A inexistência de asfalto permitia-nos atear o lume a pilhas de lenha, sem que danos fossem provocados no pavimento. O toque citadino consistia em queimar fogo de artifício vendido – pasme-se – em papelarias da baixa lisboeta, de onde familiares nos traziam estes cilindros forrados a papel brilhante , o que trazia um toque festivo ao encerramento da comemoração, embora ficasse a pairar um aroma desagradável, a sobrepor-se ao da lenha queimada. Pela primeira vez, presenciei o ritual da queima de alcachofras colhidas nos campos (hoje substituídos por torres de cimento) deixando-as, de seguida, na terra do quintal, para ver se floriam – explicaram-me então que a floração significava amores correspondidos (o que mesmo a uma jovem causava perplexidade, por aqui não se encontrar ligação lógica com a crença, talvez ancestral...). A localidade mudou, a freguesia de Algueirão-Mem Martins é hoje a maior da Europa , diz-se... Acredito que sim, pois nesta estação de comboio , as carruagens esvaziam-se, levando menos passageiros do que dedos de uma mão até Sintra, término da viagem. A evocação dos festejos de outrora, prende-se com o facto de S. Pedro de Penaferrim – o concelho tem no dia deste santo popular o seu feriado municipal – já apresentar engalanado o terreiro da feira onde, há muito, é típica a comemoração do dia 29 de junho. Cruzo os campos em redor, e vejo-os povoados de alcachofras , a substituir as papoilas que, alegres, ainda há pouco enfeitavam a paisagem.
P.S.: à margem do post, fica a hiperligação para o novo blogómetro aqui, já que o antigo foi extinto.
Na sua zona chamam alcachofra a isso? Na minha terra é cardo e é usado (nem sei bem como) para fazer queijo.
ResponderEliminarAs carruagens que se esvaziam... veio-me uma imagem à cabeça dos trasnportes-sardinha-em-lata que existem em Portugal e arrepiei-me!!
Eu gosto do S. Pedro, porque é o padroeiro da minha aldeia (temos uma estátua dele linda!). Quando penso nas festas de miúda... dá uma saudade!!! É que, além de as celebrações de agora serem uma miséria, reparo que a (minha) inocêcnia de outros tempos está perdida... :(
Olá Luísa.
ResponderEliminarTambém conhecida por "cardo", embora haja outra, a alcachofra cultivada e comestível (aprendi a apreciá-la com "outros povos" em várias receitas). A da imagem (também conhecida como cardo) é usada no fabrico de queijo (penso que seja esta, mas há várias plantas da mesma família, conhecidas como "cardo"), pois serve para coalhar o leite (ainda não arrisquei, e no passado fiz queijo com um produto vendido na farmácia, um tubinho mínimo dá para uma infinidade de queijos, mas isso era no tempo em que também fazia bolo rei em forno de lenha para consumo doméstico, só em dias de festa (e por vezes longe do país), o que me incluía no grupo dos ETs, pois toda a gente compra queijo fresco e bolo rei, não o fabrica em casa. Por acaso - e apesar da deficiente rede de transportes públicos - o comboio melhorou bastante, longe vai o tempo em que parava entre estações durante horas, sobretudo quando tinha exames na faculdade,o problema - diz-se - é o da segurança nas carruagens, mas viajo quase todos os dias e ainda não presenciei nada de preocupante (até à data e preferia pensar que será mais boato do que outra coisa) :)
Eu gosto dos cardos pela flor. A cor é linda e até mesmo seca a flor não perde a sua beleza.
ResponderEliminarQuanto às "verdadeiras" alcachofras também gosto muito e, ao que parece, são extremamente saudáveis.
Fazer queijos... Por um lado, seria bom se eu fosse capaz... pouparia algum dinheiro em queijo. Por outro, seria péssimo para o meu colesterol... os queijos iriam estar mais acessíveis e eu sou uma gulosa!!! :D
Mas... de qualquer maneira... acho que tal proeza seria demais para a minha camioneta "culinária"!!!
... Mas o queijo que eu fazia era queijo fresco, com baixo teor em colesterol, Luísa:) (e é fácil, posso garantir)
ResponderEliminareste ano, em arganil, comprei na feira semanal um saco de cardo.
ResponderEliminarcomo bom urbano,a existência do cardo fazia-me supor um 'cardo' especial que seria utilizado para fermentar o leite e produzir queijo.
afinal 'o cardo' eram os estames da alcachofra..
e sim luisa, a teresa tem razão, fazer queijo é mesmo muito fácil e agradável ao tacto (digo eu).
Agora fiquei curiosa... mas não tenho condições para tal aventura queijeira. Mas quem sabe?!?... um dia ainda me dedico à coisa. Leite é o que não falta por estas bandas... :D
ResponderEliminarO depoimento pró-queijo do carlos torna esta ideia do fabrico mais convincente:) ... e Luísa, não é necessário ter um «kit» de fabricante, posso assegurar que quando tinha de ser inventiva por falta de recursos e utensílios, foi precisamente quando me lancei na preparação de queijo fresco:)
ResponderEliminarRealmente... devo confessar que o que me convenceu mais foi a parte do "agradável ao tacto".
ResponderEliminarO problema é mesmo falta de espaço no apartamento. É mesmo muito pequenino e somos três adultos a viver nele. Já mal dá para fazer um bolo ao fim-de-semana.
Se vivesse sozinha, dava para montar o caos na minha cozinha ou na sala ou no quarto mesmo... :D agora assim... nem em sonhos!!! :s
luísa,
ResponderEliminarumas coisas boas que tem fazer queijo é que acabas com muito menos volume do que aquele com que começas.
fazer queijo não montar um queijaria (que, pelas normas actuais, não é coisa fácil..).
se comprares 1 ou dois litros de leite (que tem que ser fresco e não submitido a tratamento uht (under high temperature) ficas com queijo para as três pessoas da tua casa comerem numa refeição.
o conselho, vivendo tu num local com muitas cabras, é comprares leite de cabra que, por ser muito mais intenso, te pode dar o mesmo prazer com menos quantidade.
quanto às receitas, há milhões espalhadas pela net.
se tem tens cardos por aí,,, está na altura ideal de lhes cortares os estames e aproveitares (o cardo é utilizado fazendo uma espécie de 'soro' do cardo em água, que também encontras na net as quantidades para um litro de leite.
quando à forma, qualquer coisa circular com uns furos serve.
eu acredito que não precise de muito leite (aqui é mais vacas do que cabras, essas estão mais nas montanhas), mas... dois litros de leite não me cabem no frigorífico minúsculo que cá temos. a arca congeladora está na varanda e coisas que não sejam de congelar: no inverno a coisa escapa bem, mete-se numa caixa de esferovite na varanda e fica tudo fresquinho. no verão a coisa muda de figura e é preciso encolher a barriga para caber na caixa de fósforos em que cozinhamos. :D
ResponderEliminaré mesmo peqeunina, a minha casa e a cozinha nem se fala!!! e como tem a chaminé do aquecimento a passar por este lado do prédio, ainda ficamos com o espaço mais reduzido (na cozinha), ao ponto de fazer diferença de preços de aluguer entre os apartamentos da esquerda e os da direita!!!...
eu hei-de medir a minha cozinha, para mostrar como é apertadinha...
Quanto aos cardos... nunca reparei se os há por estas bandas, mas mesmo que haja... não me atrevo a cortá-los. é que dá multa andar a cortar plantas do espaço público e às vezes nem nos apercebmos que estamos a ser observados, mas já temos a participação em cima...
:/