22 de janeiro de 2012

Olhares: uma cidade, um país...



Como eu gostava de ser/o terceiro corvo do teu emblema/Estar implícita na tua bandeira/Negra e branca/Como tinta e papel/Como escrita e espaço!
Ser teu desenho/Tua nova lenda/Invenção deste século/Que já não inventa/E se interroga:/Donde vieram estes corvos?

Como tu, Vicente,/ Eu também não sou de cá/ Não sou daqui/ Não pertenço a esta terra/ E talvez nem sequer/ Pertença a este mundo…

Porém estou aqui/ Nesta dolorosa praia lusitana/ Cheia de um tumulto inútil/ Que enegrece as tuas areias/ E polui o ventre do rio/ Que os golfinhos há muito desertaram.

E olhando as nuvens dedilhadas pelo vento/ Sentindo a terna dor do teu sentir sentido/ Peço-te, Lisboa/ Surge de novo bela/ Reinventa/ A santidade perdida do teu emblema.
Ana Hatherly, in Itinerários, 2003

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