31 de janeiro de 2012

Cantina Universitária de Lisboa
















Houve dias que o meu Pai, para matar a fome a tantos filhos, nos levava a comer na Cantina Universitária de Lisboa. Na altura já devíamos ser seis, agora somos nove. Comprava uma senha de jantar e, putos como éramos, comer à vez a repetição do prato era uma delícia. Depois brincávamos nos jardins da Cidade Universitária.
A Cantina, além de nos consolar o estômago, permitia também termos contacto com outra maneira de ver o mundo.
Assim, um desses consolos era ir aquelas casas-de-banho cheias de escritos e desenhos nas paredes e portas. Com a evacuação ou micção aprendíamos muita coisa. Entre essas existe um escrito académico que se gravou na memória.

Este é o sítio solitário
Onde a vaidade se vai!
Aqui todo o cobarde faz força
E todo o valente se caga!


foto de Artur Goulart; AML

8 comentários:

  1. O poema é potente! Acho que nunca o li em nenhuma porta das casas-de-banho da cantina, mas ele está um pouco por todo lado...

    Em relação à foto, as árvores em frente à cantina eram maiores do que as que eu vi por lá no tempo em que lá estudei (entrei na viragem do milénio!!). É vergonhoso, não?!?

    E isso de entrarem crianças na cantina... é porque não tinha um porteiro frustrado à porta a pedir o cartão da faculdade a tudo e todos, nem que fosse para ir aos serviços sociais... (outra boa memória do tempo de estudante!!)

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  2. Este é um lugar solitário
    Onde toda a vaidade se acaba!
    Todo o cobarde faz força
    E todo o valente se caga!



    É a versão correta até para rimar o "acaba" com o "caga". Agora já não se vê muito para era comum esta frase.

    Outra frase comum, era mas na porta de entrada:

    «Em caso de incêndio, ler instruções atrás da porta»

    Logo o pessoal era induzido a ler o que por lá estaria e levava com um:

    «Só em caso de incêndio seu filho da p...»

    Abraços!

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  3. Das pérolas literárias nas paredes das casas de banho da cantina, não tenho memória - em 4 anos de letras, só lá terei entrado meia dúzia de vezes : deslocávamo-nos até à cantina mais distante, a de farmácia, pois as refeições eram melhores.
    Quanto a versos nas casas de banho de letras (e aí existiam em profusão), lamento não os ter copiado, hoje seriam um marco dos anos 70, ou não fosse uma casa de gente que gostava de versejar...

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Neste lugar solitário
    Onde a vaidade se apaga
    Todo o cobarde faz força
    Todo o valente se caga

    ;)

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  6. Mário e Almariada, obrigado ela vossa correcção métrica.Deve ser de facto uma das vossas versões, mas inclino-me mais para a do Mário Lima ou:
    Neste lugar solitário
    Onde a vaidade se acaba!
    Todo o cobarde faz força
    E todo o valente se caga!

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  7. Se calhar vai voltar a ser usada a cantina nesta perspectiva familiar...

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