Cabo Verde tem sido, por motivos a despropósito, viagem adiada. Vogamos, muitas vezes, através de vozes que nos despertam pela saudável diferença. A lembrar livros que, no passado (em fastidiosas aulas de teoria musical), ensinavam ser a voz humana o mais fascinante instrumento, deambula-se por cantos de interioridade. Cesária faz desfilar no imaginário o azul marítimo da sua terra, a vida pobre e simples, o despojamento, um diferente luar. Quando encontramos uma irrepreensível afinação de vozes treinadas e que nada «sentem», torna-se fácil relegá-las ao esquecimento. Trazendo a entoação a bater bem junto ao coração da terra, far-nos-á sempre viajar ao imaginário de Cabo Verde, vendo o milho (para a cachupa) a sobreviver à escassez da água que não cai do céu e crianças a correr, descalças, em infidáveis praias, a devolver-nos a paisagem e a musicalidade da sua língua crioula.
Lua nha testemunha
«Nha Venância, bô crê ouvi um poeminha?»
«Mas poema direito, bô ouvi?», e riu agradada como ainda não tinha rido naquele dia.
Caminho longe…
Caminho obrigado
caminho trilhado
nos traços da fome
caminho sem nome
caminho de mar
um violão a chorar
Caminho traidor
«Caminho traidor, sim senhor. Gente espera uma coisa e São Tomé dá outra. Ou não. Traidor porque rouba filho da nossa terra. Isso mesmo, moço.» (…)
Manuel Ferreira, Hora di Bai
Bom recordar Manuel Ferreira...Obrigado Teresa por mais este bonito texto.
ResponderEliminarUm privilégio, ter sido aluna deste cabo-verdiano de coração que tanto me incentivou ao meu périplo africano:)
ResponderEliminarVai persistir, para sempre, a sua sonoridade quente, doce e verdadeira
ResponderEliminarMorreu uma grande senhora!
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