28 de dezembro de 2011

Apontamento quotidiano



Gosto de viajar diariamente de comboio. Saio de casa com a devida antecedência para chegar a horas a uma reunião de trabalho. Aproximando-me da entrada do parque de estacionamento contíguo à estação, deparo com um ajuntamento junto à cancela automática. Uma senhora aproxima-se do meu carro, pedindo-me que recue, pois estão à espera da chegada de uma ambulância e, como tal, a entrada encontra-se vedada. No meio da pequena multidão, um homem caído, inconsciente. De marcha atrás, encosto à berma, ficando a aguardar cerca de trinta minutos que chegue o socorro. Vejo passar alguns comboios e aviso quem me espera no trabalho sobre o inesperado atraso. Fico a desejar que um desconhecido não tenha terminado mal este final de ano. Finalmente, chega a ambulância. A poucos metros do ocorrido, consigo entender que a vítima foi devidamente socorrida e consegue levantar-se, a custo, para entrar no veículo de emergência. As pessoas que a rodeiam, explicam-me que tudo parece ter terminado bem, mas que no interior estão a verificar a tensão arterial do doente antes da partida para o hospital.
Nesse momento, chega um senhor de meia idade acompanhado de um filho adolescente, começando a reclamar por ser aquele o único acesso ao parque, não fazendo sentido a ambulância o estar a bloquear, independentemente da causa explicativa.
Surpreendo-me comigo, pois faz mais o género pessoal um categórico «poderia ser o senhor a encontrar-se no lugar da vítima». Felizmente há quem o faça por mim. À revolta súbita, segue-se a sensação de haver mais quem se solidarize do que quem olhe exclusivamente para o seu umbigo, dando mau exemplo à própria descendência.

2 comentários:

  1. A falta de civismo, de educação e de bom-senso continuam a manifestar-se alegremente.
    Confesso que me repugnam, quase enojam.
    O português assaloiado, dono de um carro, julga-se o rei do mundo.

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  2. ... e com pose de dono do iate, o que me leva a pensar no ditado «presunção e água benta...», enfim:)

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