3 de setembro de 2011

Mensagens lá do alto



Para muitos, não passam de meros rabiscos mais ou menos elaborados. Por deformação profissional, persiste o hábito quase incontrolável de tudo pretender interpretar, ficando-se sempre a pensar qual a intenção associada aos dizeres legados ao mundo através de letras grafitadas a spray
Nos idos 70, passava na tv uma série britânica com a qualidade que as carateriza, a espantar-nos com a criatividade (brilhante, opinião de quem só elogia quando lhe parece em grande justiça "que sim" ) de algumas estórias de amor. Não recordando o título (pensava ser o mesmo «love stories», mas a busca revelou-se infrutífera) evoco, no entanto, um episódio espantoso, quer pelo desempenho dos atores, quer pelo insólito no que diz respeito aos códigos da época: alguém a trabalhar numa torre de escritórios corre perigo de vida quando, empoleirado em altura vertiginosa, decide deixar um enorme cartaz, tornando público o sentimento votado a uma funcionária do arranha-céus em frente - o espaço de trabalho desta senhora situava-se ao nível do andar onde se encontrava o «alpinista» que, todos os dias, a contemplava, dado os gabinetes se situarem frente a frente.
Hoje o gesto reveste-se de uma banalidade acentuada pela repetição: em vias rápidas, encontramos mensagens idênticas na intenção (embora não tão tocantes como a da série), penduradas do alto de viadutos ou em locais igualmente inacessíveis.
Surge a presente lembrança ao ter visto nas falésias próximas, o marco decorado com inscrições diversas: o que levará os autores a transportar materiais de pintura para locais distantes e só alcançáveis através de caminhos sinuosos?
Sem encontrar a resposta até ao presente, visitam-nos os derradeiros versos de um grande poema: «Tantas histórias/Quantas perguntas».

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