19 de agosto de 2010

Palavras em Português

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(imagem: tomaradianteira.blogspot)

Inesperadamente sou alertada por uma amiga para este interessante post. Atendendo à pertinência das questões colocadas, a atenção pessoal é mobilizada pelo texto apelativo.
Em sintonia com o poeta quando afirma «a minha pátria é a Língua Portuguesa», recordo amigos que, emocionados, ensinaram o nosso idioma e a nossa cultura em diversos recantos do planeta. Os comentários que deixavam eram coincidentes : «nem imaginam a sensação de ouvirmos, em paragens distantes, pessoas de diversas idades a declamarem versos dos nossos poetas, a conhecerem em profundidade a nossa cultura, a dialogarem em Português».
Os variados relatos diziam respeito a estudantes do ensino secundário (sim, sem descenderem de emigrantes escolheram o Português como opção, a alguns destes jovens, conheci-os e acolhi-os em minha casa) ou do superior, nem sempre directamente ligados a Portugal por factores históricos.
Quando se estima e tenta cuidar das palavras – utilizadas com transparência e não como retórica oca são do mais belo que existe (as desculpas pela subjectividade da afirmação) - o seu valor torna-se inestimável. Por isso mesmo, causa certa apreensão o simplismo de algumas teorias (?) tentando encontrar nomes e rostos envolvidos (não confundir com o conceito de «a culpa morrer solteira») sempre que esbarram em quem – por visibilidade pública – deveria ter maiores responsabilidades na correcção linguística : políticos, locutores, juristas, jornalistas, docentes…
A tese do capital cultural tal como a defende Pierre Bourdieu que, de forma simplista, se poderá resumir ao determinismo “colado” a cidadãos oriundos de meios desfavorecidos a ponto de travar a sua progressão escolar e social custa, pessoalmente, a aceitar (embora o autor seja apelativo e pertinente em muitos dos escritos ). Por isso mesmo e colocando na arena os que, acerca dos maus tratos ao idioma, criticam pais e defendem professores a par de outros que culpam estritamente o ensino, tudo leva a crer tratar-se de uma questão cuja complexidade – não parecendo cingir-se a matéria a um primário “tomar o partido de” - mereceria uma reflexão amadurecida, indissociável de honesta contextualização a servir-lhe de suporte com vista à implementação, a curto prazo, de práticas eficazes.
Sabendo tratar-se de um dos poemas mais utilizados nos últimos tempos – também por destacar a importância da comunicação verbal – fica a sua transcrição por consistir numa alternativa (literária, é certo) a salientar a importância de clarificar conceitos através de algo tão importante como palavras (quando devidamente utilizadas, o que nunca é demais repetir):

São como cristal, as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras, orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes, leves.
Tecidas são de luz e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta?
Quem as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

2 comentários:

  1. Amar as palavras em português é de facto a questão.
    Preservá-las como espécie em vias de extinção que são, é uma missão que parece impossível.
    Já repararam como em muitos meios de comunicação social se ridiculariza quem não tem a pronúncia certa numa Língua Estrangeira, e logo de seguida se assassina o Português, sem ninguém dar por isso? Irrita-me a situação.
    Irrita-me que, principalmente na TV, uma qualquer jovem jornalista, do alto da sua sabedoria cosmopolita, indague a idosa Srª Maria de Trás-os-Montes sobre os «Workshops de Queijo fresco», perante o olhar intrigado da senhora.
    Adoro ouvir um Pastor do Douro dizer «Para onde ides, meninos?», quando na maior parte do País já se ensina que a 2ª Pessoa do Plural caiu em desuso.
    Adoro ouvir a minha Mãe dizer «anexim», «ajoujada», «gravaneiro», «cumua»…
    Não! Não, são bem regionalismos, algumas destas palavras já se utilizavam no Sec. XV...
    Não sou professora, nem doutora ou engenheira, não sou licenciada em nada, mas o gosto pela boa utilização da nossa Língua, devia ser um amor cultivado por todos nós.

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  2. Gostei de ter lido o seu comentário, mar. A imagem dos 'workshops de queijo fresco' (interessante exemplo) alastra em diversos sectores. Na minha profissão, já tive de ler relatórios sobre alunos com dificuldades de aprendizagem (redigidos por psicólogos ou outros terapeutas) e pasmei ao verificar que muitos dos técnicos (com honrosas excepções) não se dão ao trabalho de pensar que os mesmos se destinam a pais com poucos estudos, utilizando uma linguagem técnica quase indecifrável...
    Quanto a palavras a cair em desuso por motivos vários, algumas são realmente fascinantes. Em casos pontuais, no Brasil (e em regiões mais isoladas do nosso país) muitas ainda se conservam tal como eram 'ditas e escritas' há alguns séculos.
    ... e para se gostar do nosso idioma não é preciso licenciatura. Garanto que conheço autodidactas que dariam lições a muitos especialistas pós-graduados, sei de alguns com quem muito tenho aprendido:)

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