22 de agosto de 2010
Pai conquistado
Este verão tenho passado poucos dias com a minha filha e sinto a falta.
Por variados motivos e algumas boas motivações tem-se ausentado e, assim, não temos compartilhado tantos momentos como era habitual nas férias de verão e pelos quais ansiava. O estudo para os exames, o passar uns dias com os amigos, as saídas à noite e não sei mais o quê, têm contribuído para a sensação de perca que me atazana e gerado saudade.
Claro que sei que tudo isto é muito normal para a idade que tem, dezassete anos, como é normal que a recordação dos bons momentos me invada e ocupe os meus pensamentos.
Um desses momentos que retenho, e que me agrada demais recordar, passou-se quando a minha filha tinha três anos, mais coisa menos coisa. Era um dia igual a tantos outros e, ao fim da tarde, fui buscá-la ao infantário. Adorava ir buscá-la ao colégio, auxiliá-la com a mochilinha e virmos pela rua de mãos dadas a conversar.
Conversávamos sobretudo sobre o dia dela, dos outros meninos, da educadora e também de coisas que, sem saber bem de onde vinham, se soltavam da sua cabecinha a crescer.
Nesse dia, sem ainda hoje conseguir descortinar bem a origem, colocou-me uma questão para a qual não fui capaz de responder, mas que me conquistou por completo:
- Ó pai!
- Sim filha, diz!
- Ó pai! Quando tu ainda não eras meu pai, pai, quem era o meu pai, pai?
Foto de Martine Franck; Magnumphoto
Algumas crianças fazem perguntas espantosas, em relação às minhas filhas tenho algumas frases bem presentes e já pensei em registá-las por escrito, com medo de que caiam no esquecimento. A que o Miguel Gil aqui deixa na conclusão do post é de filósofa:)
ResponderEliminar"Tia, eu penxo, xei tudo, porque eu tenho xérebro" diz a Maria com 4 anos.
ResponderEliminaruma das frases que mais irrita ainda hoje a minha filha é 'antes de tu existires'..
ResponderEliminarA filosofia é bonita, mas eu acho mais bonito ainda as saudades do pai...
ResponderEliminarE, T, a Maria sabe mesmo tudo, porque não é qualquer miúdo anos que se sai com uma dessas.
... e o meu sobrinho de 5 anos a dizer ' foi só uma pergunta retórica'? Cá para mim, só pode ser uma expressão que ouviu e repetiu, mas suscitou perplexidade e diversão entre os adultos:)
ResponderEliminarFilósofa! :) A minha filha virou-se mais para a área da biologia. A Maria, sobrinha da T., é que parece mesmo uma filósofa, xim xenhora! :)
ResponderEliminarCarlos, eu tb me irritaria. Antes de existirmos tudo é História. :)
Luísa, mais difícil que a saudade é ser-se atazanado pela sensação de perca, sei que é estúpido tê-la, mas confesso-a.
Teresa, escreve sim! :)
Os miúdos encantam-nos na medida recíproca da nossa disponibilidade para os acarinhar e os mimar.
Com uma ligeira lágrima, de tanta coisa que essas palavras dizem, no canto do olho, fica a certeza de que me podes pedir tudo, até dentadinhas no pescoço... Só não me podes pedir que deixe de ser tua filha.
ResponderEliminarNem penses! Nunca te vais livrar das minhas dentadinhas no pescoço, são tão deliciosas.
ResponderEliminarAdoro-te!