7 de agosto de 2010

O Meu Umbigo

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É muito comum encontrarmos pessoas que só pensam no seu umbigo.
Hoje, peço desculpa aos mais altruístas, mas vou falar do meu.

O meu umbigo é especial.
É especial porque é o meu umbigo e por tudo aquilo que vou passar a contar.
A cura pueril do meu umbigo não correu como esperado. Em vez de ter um buraquinho, tenho uma proeminência umbilical.

Ora, aí a meio do meu primeiro ano do ciclo preparatório, na velha Escola Pedro de Santarém, na aula de Religião e Moral, o professor de ocasião, padre de vocação, escreveu no quadro o seguinte sumário:
“Reprodução humana”.
Risada geral muito própria da rapaziada desta idade. Recurso comum para disfarçar a ignorância, a vergonha e o ensejo de descobrir algo sobre o sexo.
O professor lá consegui começar a explicar tudo o que sabia e como sabia. Explicou que os homens se encostam às mulheres e que havia uma coisa que lhes crescia, a espetavam de maneira a depositarem uma semente na barriga feminina. Explicou que era assim que apareciam os bebés, e estes desenvolviam-se na barriga das mães.
Fiquei radiante, já sabia como era que se faziam os filhos. Mais radiante fiquei porque, afinal, o meu proeminente umbigo servia para alguma coisa.
Muito orgulhoso por já o ter bem crescidinho, imaginava-o já espetado no buraquinho umbilical de uma qualquer mulher, de forma a poder depositar a semente que geraria meus filhos. Mas que rapagão desenvolvido que eu era!
Esta foi a minha primeira aula de educação sexual.
Felizmente, pouco tempo depois, percebi que a ciência tinha avançado, e que os filhos eram feitos de outra maneira, ligeiramente mais agradável, claro, isto de acordo com os relatos da malta um pouco mais velha.

Decepcionado com o facto do meu proeminente umbigo passar novamente a não servir para nada, fui continuando a vida, até que há poucos dias descobri a sua verdadeira razão de ser.

Estava eu numa praia muito cosmopolita de Espanha, onde se podia encontrar gente de todas as regiões do mundo, tanto pessoas do centro e do ocidente europeu, como de África, das Américas, da Ásia e da Oceânia. Praia que mais parecia o local da convocatória da ONU para a realização de uma assembleia-geral mundial de banhistas.
Eis quando senão, passeando pela praia, como tanto gosto de fazer, descubro a exacta razão do meu proeminente umbigo:
Constato que, durante momentos mais ou menos breves, todos os banhistas com que me cruzo, sem excepção, deixam de pensar exclusivamente no seu umbigo e desviam o olhar, centrando altruisticamente a suas atenções e pensamentos no meu proeminente umbigo.

Fiquei novamente orgulhoso do meu umbigo, e sinto-me uma autêntica ONG, capaz de contribuir para a harmonia mundial.

5 comentários:

  1. Obrigada por este momento de escrita escorreita e ainda melhor humor.Habituada a rir-me de mim própria nos pequenos incidentes (quem vive pressionado pela perfeição, não vive), revi-me um pouco por aqui. Quanto a uma outra questão levantada no post, a da educação sexual na escola, haveria muitas anedotas para contar, algumas já do século XXI:)

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  2. Um belo mostrar de umbigo:)

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  3. Felizmente nunca tive complexos com o meu umbigo. É feio como o caraças mas é o meu umbigo. Divirto-me quando os miúdos param, puxam a mão das mães e exclamam:
    - Mãe! Mãe olha, olha mãe...!
    - Oh! Filho não se aponta que é feio!
    Ainda não saí na Caras mas sou uma atracção fatal das praias 'bens frequentadas'.
    Confesso que um cirurgião já me quis operar:
    - É simples e fica perfeito. Disse ele, mas esqueceu-se de que não há homem que se preze que deixe, de âmbito leve, que lhe cortem o dito cujo.
    Por outro lado, uma ONG não se deixa corromper por tão pouco, ainda se me oferecessem um Mercedes, talvez pensasse duas vezes!

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  4. Um texto umbilical muito interessante e bastante humorado. Gostei!!

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  5. Relógio.de.Corda,obrigado pelo comentário!
    Pode sempre voltar para irmos acertando as horas consigo. :)

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